São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 1995
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O que falta resolver no Mercosul

LUIZ GONZAGA BERTELLI

No dia 1º de janeiro de 1995, começou a funcionar formalmente o Mercado Comum do Sul (Mercosul), englobando os habitantes da Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai; mais de 200 milhões de pessoas, o que corresponde à somatória das populações da Itália, Espanha, Grã-Bretanha e França; um PIB de US$ 800 bilhões e população consumidora de 200 milhões.
No tocante às relações internacionais, o Mercosul pretende afastar, definitivamente, os antagonistas entre os países signatários do acordo. Permanecerão, no entanto, diversas questões a serem definidas: paridade cambial; criação de passaporte e moeda comum; liberdade de radicação; revalidação dos diplomas escolares e universitários; adoção de um idioma oficial; intercâmbio social e cultural; livre circulação de bens e serviços; fixação de uma política salarial comum.
Em 1988, quando o Brasil e a Argentina iniciavam os entendimentos visando a integração, existiam apenas dois vôos diários entre São Paulo e Buenos Aires. Hoje são oito e no ano vindouro superarão dez. Já está projetada para o início do próximo século o término da ponte Buenos Aires-Colônia, que, após a conclusão da via expressa, reduzirá o percurso de automóvel até a capital paulista para apenas 15 horas.
Um grupo de empresários argentinos, em parceria com brasileiros, pretende implantar um trem-bala, a fim de rodar os 1.800 quilômetros que separam São Paulo da capital portenha em seis horas, ou seja, pouco mais que a atual viagem de Buenos Aires a Mar Del Plata.
A rede hidrográfica argentina, dominada pelos rios Paraná e Uruguai, vindos do planalto brasileiro para formar o grande estuário do rio da Prata, poderá estar ligada, até o ano 2010, ao sistema hidrográfico Tietê.
As pesquisas de opinião pública publicadas na revista argentina "Notícias" sobre o pensamento da população do país vizinho no tocante ao brasileiro e seu comportamento informam que as empresas brasileiras estão bastante profissionalizadas, são eficientes e competitivas; 500 empresas brasileiras já têm o certificado ISO 9000; os empresários são otimistas e empreendedores; os industriais têm experiência nas exportações, gostam de vender cada vez mais e com preços menores; a informática encontra-se desenvolvida nas nossas empresas.
Contudo, asseveram que o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão e enfatizam: há no Brasil assassinos profissionais, que podem ser contratados por poucos reais; adolescentes prostituem-se no Nordeste brasileiro; homens e mulheres brasileiros casam-se diversas vezes.
É apontada a existência da "Belíndia", um país onde 40 milhões de "belgas" (brasileiros com renda e educação belga), convivem com 110 milhões de "hindus" (brasileiros com renda e educação da Índia). E o Brasil teria três capitais: Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.
Quanto aos brasileiros, eles pensam que os argentinos são agressivos (porque comem muita carne), são educados e elegantes, são cultos (há uma livraria em cada esquina) e possuem o índice de analfabetos mais baixo da América. São indisciplinados, prepotentes e pessimistas; são politizados e patriotas e usam, invariavelmente, paletó e gravata; as suas empresas não são competitivas (apenas 40 possuem o certificado ISO 9000); Buenos Aires é a capital econômica, política e cultural da nação e os argentinos denotam maior fidelidade ao casamento.
Noventa por cento dos argentinos pertencem a uma única confissão religiosa (católica), enquanto igual percentual de brasileiros professaria várias religiões.
Indústrias brasileiras vêm se aproximando gradativamente do mercado argentino, como é o caso do setor de alimentos e bebidas. O "marketing" e a publicidade brasileira fizeram com que o argentino passasse a tomar 33 litros de cerveja por pessoa ao ano nos últimos anos.
Por outro lado, o consumo de vinho, que antes alcançava 90 litros por pessoa ao ano, foi reduzido para pouco mais de 60 litros. A Brahma concluiu a instalação de uma moderna fábrica de cerveja, com investimentos de US$ 120 milhões, e grandes empresas como Arisco, Alcoa, Sadia, Amil, Duratex, Hering e Banco Itaú promovem investimentos na Argentina.
Os levantamentos efetuados pela AEB (Associação do Comércio Exterior do Brasil), constataram a existência de 115 "joint ventures" entre empresas argentinas e brasileiras, envolvendo investimentos de US$ 1,5 bilhão, em diversos setores, principalmente autopeças, alimentos, serviços bancários e transportadores.

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