São Paulo, terça-feira, 24 de janeiro de 1995
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Ornella Muti quer abandonar imagem de 'femme fatale' italiana

RICARDO CALIL
EDITOR-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

Ornella Muti tem uma obsessão peculiar para uma mulher de 39 anos: quer abandonar a imagem de "femme fatale". Para uma atriz que se livrou recentemente dos papéis de ninfa, não chega a ser surpresa. Mas, a julgar por "O Amante Bilíngue", filme do espanhol Vicente Aranda que Ornella veio divulgar em São Paulo, ela está longe de ser bem-sucedida.
No papel de Norma, mulher que trai seu marido com engraxates, entregadores, taxistas, Ornella continua ambiguamente letal. "Ela tem um lado obscuro em sua vida sexual. Não é exatamente uma mulher fatal, é uma mulher com uma perversão. Foi o que me atraiu no roteiro", disse anteontem à Folha –em inglês, uma das cinco línguas que ela fala.
Bronzeada pelo sol de Angra dos Reis (RJ), onde passou uma semana na ilha alugada pela revista "Caras", Ornella parece perder um pouco de sua aura quando tenta explicar sua personagem em inglês. Mas logo recorre ao italiano –"la lotta interiore", "la passione"–, e o encanto se refaz.
Assim como a maior parte de seus filmes, "O Amante Bilíngue", que deve estrear em São Paulo na próxima sexta-feira, desmerece a atriz. Ornella já trabalhou com Mario Monicelli ("Romance Popular"), Ettore Scola ("A Viagem do Capitão Tornado") e Marco Ferreri ("Crônica de um Amor Louco"), mas ainda procura seu grande filme.
"Deveria me devotar mais aos meus trabalhos. Preciso fazer algo com urgência que me satisfaça completamente. Comecei a carreira muito nova (14 anos), achava que iria voltar para escola. Depois, me dediquei a meus filhos."
Para participar de seu primeiro filme, "Por Amor ou por Vingança" (1970), de Damiano Damiani, Ornella fingiu que estava doente na escola. Nascida Francesca Rivelli, em Roma, ela foi rebatizada por Damiani porque outra atriz tinha o mesmo sobrenome. O diretor decidiu, então, fazer uma homenagem à atriz teatral Eleonora Muti, já morta.
Depois de vários filmes italianos que exploravam sua nudez, a atriz recebeu, em 1980, convite para participar da superprodução norte-americana "Flash Gordon". Ela aponta a decadência do cinema italiano como explicação para suas investidas nos cinemas americano, espanhol e francês. "Eu tive sorte de fazer filmes em outros países em uma época que o cinema italiano enfrentava uma crise muito forte. Hoje, a Itália só produz filmes muito intelectuais ou muito populares, de mau gosto."
A atriz gostaria de ter trabalhado com De Sica e Visconti. Sobre Fellini, tem sentimentos contraditórios. "Gosto muito de seus filmes, mas os personagens são muito exagerados. Não sei se seria a atriz certa para Fellini." Entre os cineastas vivos, tem esperanças de filmar com os Taviani, Bertolucci e os americanos Abel Ferrara e Woody Allen.
Ornella deve voltar hoje à Itália. Ontem à noite, deveria comparecer à pré-estréia de "O Amante Bilíngue", no Espaço Banco Nacional. Como determina o protocolo, ela se disse "maravilhada" com a natureza e os animais brasileiros e promete voltar em breve.

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