São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 1995
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Uma política de drogas

SERGIO DARIO SEIBEL

A droga vem se tornando cada vez mais presente na sociedade brasileira. Parece que, desta vez, também algumas medidas vêm sendo tomadas. Na realidade, não é o caso de dizer: antes tarde do que nunca.
Será que a questão estará resolvida se for escolhida uma cidade, no caso o Rio de Janeiro, como bode expiatório de toda a decadência do Estado brasileiro, fragilizada, entre outros aspectos, pela completa desmoralização do aparelho policial, para não dizer do esgarçamento de quase todo seu tecido social?
Fala-se na imprensa que o Rio seria a capital nacional do crime organizado, quando se tem sempre e apenas, nessa mesma imprensa, os nomes e apelidos de vagabundos fortemente armados, fixados em algumas favelas, talvez em quase todas, controlando pontos de venda de drogas, principalmente cocaína e maconha, para o consumo das classes média e alta.
Onde se encontra a tão falada organização criminal? Quem financia o tráfico? Quantos e quais "verdadeiros" traficantes, donos da droga, encontram-se presos?
Não adianta colocar nas ruas do Rio de Janeiro o vistoso aparato bélico-carnavalesco-perigoso, apenas para reprimir os "pés de chinelo" armados. É muito investimento em dinheiro, deslocamento de homens e tempo, além de o Exército não ter sido montado para missões de polícia. Da última vez que os militares cumpriram tal tarefa, deu no que deu: 20 anos de repressão e ditadura, pois sabe-se quando o Exército sai às ruas, mas não quando delas sai.
O que se propõe para o crescente número de consumidores de drogas tupiniquins? Como ficam os consumidores de drogas, no caso cocaína, sob qualquer forma: inalada, injetada, fumada, usada por via intra-retal ou qualquer outra via de introdução?
Quais as medidas preventivas, de tratamentos físicos e mentais, bem como de reinserção socioprofissional estão sendo pensadas e executadas, em benefício dos usuários da droga e que delas já sofrem as consequências? Que tipo de política de drogas vem sendo elaborada, que não diga respeito apenas à repressão ao tráfico, mas que dê atenção direta aos consumidores de drogas?
Muito pouco tem sido feito, quase nada. A lei 6.368 é de 1976, da época da ditadura. Estando em época de consolidação da democracia em nosso país, nada mais justo e perfeito do que democratizá-la. Mas de nada adiantará produzir um monte de papel, sem consequências práticas.

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