São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 1995
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Poema permaneceu inédito durante 41 anos

DA REPORTAGEM LOCAL

Oswald de Andrade começou a escrever "O Santeiro do Mangue - Mistério Gozoso, em Forma de Ópera" em 1935 ou 1936, concluiu o trabalho em 1950, mas ele só foi editado em 1991, quando saíram suas obras completas.
Antes, havia uma versão impressa em mimeógrafo, editada em 1967 pelo poeta Mário Chamie.
Há pelo menos duas versões do poema –a que Oswald deixou com Chamie e a que entregou ao crítico Mário da Silva Brito.
A adaptação do Oficina mistura as duas versões. O livro editado pela Globo traz o texto que ficou com Silva Brito.
Só a censura moral explica o ineditismo de 41 anos.
É um "canto de uma violência e de uma força como jamais ouvi ou li, em nossa literatura", escreve Silva Brito no prólogo do livro editado pela Globo.
Oswald volta em "O Santeiro do Mangue" ao tema do seu primeiro romance ("Os Condenados", 1922): a prostituição.
A diferença fundamental é o enfoque de "O Santeiro do Mangue", como assinala Silva Brito: "Os dramas não são individuais, mas focalizados em bloco, globalmente (...) É um poema-teatral de massas".
Segundo o poeta Francisco Alvim, o poema de Oswald antecipa ao mesmo tempo a linguagem de Nelson Rodrigues e o minimalismo de Dalton Trevisan.
O desencanto de Oswald com o Partido Comunista, pelo qual queria sair candidato a deputado constituinte em 1946, quatro anos antes de finalizar o poema, vira deboche numa das cenas.
O Estudante Marxista, um dos personagens, sobe no ombro de Cristo no Corcovado e discursa: "Mas o que importa a uma sociedade organizada é manter o seu esgoto sexual. A fim de que permaneça pura a instituição do casamento. Para que não seja necessário o divórcio. E vigorar a monogamia e a herança. A burguesia precisa do Mangue".
Jesus das Comidas joga o estudante no abismo: "Vá fazer ironia com a mãe. E propaganda política com a puta que o pariu".

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