São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 1995
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Brasileiros reclamam do governo japonês

PAULO HENRIQUE BRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois do trauma de passarem por um terremoto sem que tivessem orientações para enfrentar a catástrofe, um grupo de 36 brasileiros provenientes da cidade de Kobe, no Japão, chegou ontem a São Paulo.
Todos reclamaram da lentidão do governo japonês em providenciar assistência às vítimas do terremoto e a maioria disse não querer retornar nunca mais ao Japão.
O avião pousou às 9h35 de ontem, com 45 minutos de atraso. O atraso ocorreu porque uma das vítimas, Elaine D'Andrea, 15, grávida de seis meses, sentiu dores. Foi medicada na escala em Lima, Peru. Ela chegou com o namorado Shigueuchi Hayakawa, 15.
Os brasileiros, 34 adultos e 2 crianças, desembarcaram no aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, muito emocionados e com pouco mais do que a roupa do corpo.
A gente (os brasileiros) não tinha instrução do que fazer em caso de terremoto, afirma Magali Ike, 33. Acho que todas as pessoas que vão lá para trabalhar deveriam ser orientadas antes.
Magali conta que os brasileiros, ao contrário dos japoneses, não se preocuparam em comprar água e comida logo após o tremor.
Fui para uma escola. Ficamos o primeiro dia inteiro em pé, no pátio. Os cobertores só chegaram na segunda noite. Em um dos dias, fiquei das 7h às 12h na fila para conseguir água, conta.
Uma das mais emocionadas na chegada era Takako Nomiama Kotani, 41, que perdeu a amiga Marcia Ueda, morta no terremoto.
Deixei muitos amigos e perdi essa minha amiga. Não pretendo voltar mais para o Japão, disse.
Adilson Correa, 25, participou junto com Alécio Matsushiro da Silva do resgate dos corpo de Adilson Stafussi, 33, e seus dois filhos, Tiago, 7 e Tamires, 4.
Nós resolvemos, por conta própria, enfiar a mão ali para tirar as pessoas de debaixo dos escombros, diz ele.
O ministro Affonso Massot, chefe do Departamento Consular e Jurídico do Itamaraty, disse que as cinzas de sete dos oito brasileiros mortos no Japão devem chegar até o final da semana ao Brasil.

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