São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 1995
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Sobrevivente volta em estado de choque

AMÉRICO MARTINS
ENVIADO ESPECIAL A ITIRAPINA (SP)

Uma das brasileiras que sobreviveu ao terremoto ficou soterrada por três horas nos escombros do prédio onde morava, em Kobe.
Alaide Isuguie da Silva Ferreira retornou ontem ao Brasil em estado de choque, com um hematoma no rosto e escoriações no peito.
Ela afirma que não consegue dormir direito desde o dia do terremoto. Cada vez que tenta descansar, acorda desesperada, imaginando que o tremor vai se repetir.
Três pessoas da família de Alaide morreram soterradas –duas cunhadas, Cleusa e Aparecida, e um sobrinho, Wellington.
Um de seus irmãos, Sidney, também ficou preso entre os escombros, mas foi resgatado com vida. Ele ainda está no Japão, cuidando da cremação dos parentes.
Alaide foi salva por um grupo de brasileiros, liderados por seu marido, Paulo Donizete Ferreira, e três de seus irmãos, Alécio, Alexandre e Laércio.
O grupo trabalhou sem ferramentas e sem ajuda dos bombeiros. Além dos parentes, conseguiram salvar dois japoneses.
Segundo Alaide, os moradores de Kobe não ajudaram na operação e ainda passavam por cima dos escombros que estavam sobre ela.
No momento do tremor, cinco pessoas estavam em seu apartamento e ela dormia. "Eu só ouvi um barulho muito feio, tudo começou a tremer e cair", disse.
Alaide só percebeu o que tinha ocorrido quando o terremoto passou e a deixou soterrada.
A sobrevivente começou então a gritar, chamando os parentes. Ela chegou a ouvir os pedidos de socorro de sua cunhada Aparecida.
Entrou em desespero quando os gritos foram se enfraquecendo, sem que os familiares conseguissem localizá-la.
Mesmo soterrada, ela percebeu quando a cunhada morreu. "Uma horas, ela não respondeu", disse. Com o terremoto, a família perdeu tudo o que tinha no Japão.
Segundo Alexandre Hiroshi Antunes, irmão de Alaide, o dinheiro que eles conseguiram juntar, os documentos e até mesmo as roupas ficaram entre os escombros.
Ele conseguiu sobreviver porque estava dormindo num prédio vizinho ao de Alaide, que não desabou. "Estava tudo tremendo. Meu irmão me chamou e disse que o prédio ia cair, então corremos para um campo aberto", afirma.
Os outros sobreviventes da família estavam trabalhando no momento do tremor. Todos eles ficaram ajudando um dia inteiro na remoção dos corpos e em busca dos sobreviventes.

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