São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 1995
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Batalha do brasão volta depois de 105 anos

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é a primeira vez que o uso de um símbolo nacional provoca uma batalha de conceitos no Brasil, a exemplo da logomarca criada pela agência publicitária DM9 para o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em 1890, o emigrante alemão Arthur Sauer, da Casa Laemmert, uma tipografia carioca, ofereceu –sem que lhe fosse encomendado– o brasão da República ao marechal Deodoro da Fonseca, chefe do governo provisório e seu amigo pessoal.
Lance comercial
Foi um lance comercial de propaganda para a Casa Laemmert. Surgiram protestos na imprensa devido ao fato de Sauer ser estrangeiro.
"O autor era muito hábil desenhista de marcas de cigarros, mas completamente leigo em matéria de heráldica", escreveu o historiador Clóvis Ribeiro.
As armas oficiais da República foram aprovadas pelo decreto número 4, de 19 de novembro de 1890.
Cento e cinco anos depois, Sauer cede lugar a Nizan Guanaes, o presidente da DM9, o novo alvo dos críticos de brasões.
O designer Marco Antonio Amaral Rezende, por exemplo, diretor da Martino/Cauduro, uma das maiores empresas brasileiras do setor, discorda da forma como foi utilizado o brasão da República na logomarca criada para o governo federal.
"A exemplo da bandeira nacional, o uso do brasão é definido por regras precisas", afirma Rezende. "Seria necessário desenvolver um manual, tal como prevê a lei e indica a boa prática profissional".
Uma tarefa de tal complexidade, calcula Rezende, pode custar até R$ 100 mil. "Mas foi adotada uma solução amadorística", diz.
A logomarca foi oferecida de graça pela equipe da agência DM9, que trabalhou na campanha eleitoral de FHC. A lei exige licitação para esse tipo de serviço.
A peça é formada por um retângulo azul e amarelo com três palavras escritas em branco: "Brasil", na linha superior, e "Governo Federal", na linha inferior. O símbolo nacional aparece ao lado.
Outro ponto destacado refere-se ao fato de que as filigranas do brasão seriam de difícil reprodução em escala reduzida –daí a necessidade de estudo para estabelecer variações de desenho que permitam um uso econômico.
"Falta também um padrão de desenho adequado para uso em ampliações não fotográficas e mídia eletrônica", acrescenta.
A Martino/Cauduro realizou, nos anos 70, uma versão do brasão do governo paulista. Há 30 anos, desenvolve logotipia de marcas para o Banco do Brasil, Souza Cruz e Unibanco, entre outras empresas.
A Folha procurou o diretor de arte João Carlos Mostério de Carvalho, apontado como autor da logomarca de FHC, para comentar as críticas de Rezende. Carvalho não deu retorno.

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