São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 1995
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Secretário de Covas era servidor 'fantasma'

GEORGE ALONSO
D REPORTAGEM LOCAL

O secretário de Esportes e Turismo do governo Mário Covas (PSDB), Sérgio Barbour, 52, foi "funcionário fantasma" da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico de São Paulo) na gestão do governador Luiz Antonio Fleury Filho (PMDB).
A atual secretário era funcionário da Comgás desde 12 de maio de 1988, embora nunca tenha prestado serviços àquela empresa.
Em entrevista à Folha, Barbour disse que trabalhou na Sabesp, como comissionado (emprestado pela Comgás), de 1992 a 1994. Mas vários funcionários da empresa nunca ouviram falar de seu nome.
O governador Covas já decidiu que devem ser demitidos todos os funcionários "fantasmas" e os chamados "fantasmas estáveis" –aquele comissionado que nunca trabalhou na empresa que o contratou (leia texto ao lado).
"Fiquei lá na Sabesp de 1992 até o final da administração, em 1994, na assessoria da presidência. Dava assessoria", afirmou, na última segunda-feira o secretário.
Nesta semana, a Folha procurou a Sabesp para confirmar a informação. A empresa informou os nomes dos quatro assessores executivos do ex-presidente Luiz Appolonio Neto: Emílio Barroso Jr., Leopoldo Macedo Neto, Maria Guiomar Sala e Walter Sigolo.
O cadastro de empregados da Comgás, referente a junho passado, coloca Barbour como funcionário "ativo" da empresa. Não aparece como comissionado na Sabesp –o que contraria a informação dada pelo atual secretário.
Marli Anazário, uma das duas secretárias da presidência da estatal há sete anos, nunca o viu. "Não conheço nenhum Sérgio Barbour. Conheço só o secretário, pelos jornais. Ele não era funcionário. Nunca trabalhou aqui", disse ela, ao ser indagada pela Folha.
"Não conheço nenhum Sérgio Barbour na Sabesp. Assessor? Nunca ouvi esse nome falar na Sabesp", disse Yone Pires Ferreira, secretária da diretoria de Operação Metropolitana. Ela é empregada da empresa há 19 anos.
A Folha decidiu procurar então, ex-diretores da empresa. O ex-diretor de Meio Ambiente José Fernando Bruno disse que "desde outubro de 1993" (quando foi criado sua diretoria) não soube da presença de Barbour na empresa.
"Na área da presidência, eu saberia, os diretores estavam ali. Nessa área, ele não trabalhava", disse Bruno.
Roberto Valente, ex-diretor comercial, foi direto: "Sérgio o quê? Vamos falar francamente. Realmente, não sei quem que é".
Já João Alberto Viol, ex-diretor de Engenharia, afirmou que Barbour esteve na empresa, mas de forma relâmpago. "Eu acho que passou por lá, no final do 1992 ou início de 1993. Mas ficou muito pouco tempo. Recentemente, em 1994, não trabalhava".
Barbour afirmou que nunca falou com diretores e que só teve contato direto com o então presidente Luiz Appolonio Neto ("é meu amigo"). Antes de presidir a Sabesp, Appolonio chefiou a Comgás (de 1991 a abril de 1993).
Appolonio fui procurado durante toda a semana em sua casa e no escritório. À Folha foi dito sempre que ele estava viajando.
Barbour disse também que nunca assinou documentos na Sabesp porque era "assessor especial". "Só tratava de interesses da presidência", afirmou.
Na Comgás, Barbour nunca prestou serviços. "Sempre fui chamado para outros órgãos", alegou. Ele descreveu vários comissionamentos.

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