São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 1995
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PERGUNTAS E RESPOSTAS

ANNETTE LEVY-WILLARD
DO LIBÉRATION

Pergunta - Quando se soube da verdade?
Resposta - Os alemães tentaram esconder a realidade do extermínio. Eles falavam de campos de trabalho, não davam nenhuma ordem escrita, camuflavam as câmaras de gás. Mas, desde 1941, organizações judaicas recebiam notícias alarmantes sobre o desaparecimento das comunidades na Europa ocupada. No verão de 1942, o mundo poderia saber, se quisesse.
As fontes eram múltiplas: a resistência polonesa e o governo polonês no exílio, a Cruz Vermelha, o Vaticano, os fugitivos, o serviço secreto britânico. Richard Lichteim, um ex-líder sionista alemão, não parava de informar Jerusalém, Londres e Nova York do destino dos judeus no Leste. Em um telegrama de 15 de agosto de 1942, ele anunciava que no fim da guerra não haverá mais judeus vivos no continente europeu.
Ainda em agosto de 1942, o representante em Genebra do Congresso Mundial Judaico, Gerhart Riegner, enviou ao escritório de Londres um telegrama, transmitido às autoridades britânicas e norte-americanas: Recebi relatório alarmante de que, no QG do Fuhrer, um plano foi discutido e continua a ser examinado para que todos os judeus dos países ocupados ou controlados pela Alemanha sejam, após deportação e concentração no Leste, exterminados, para resolver de uma vez por todas a questão judia.
Pergunta - Por que Auschwitz não foi bombardeado?
Resposta - Os aliados não teriam reagido por indiferença ou anti-semitismo. Sabia-se de tudo, é verdade, mas não se acreditava. Mesmo as organizações judaicas preferiam não divulgar os massacres com gás e os cadáveres queimados em fornos, para não criar pânico. Como os outros, os líderes judeus não conseguiam conceber o desaparecimento de um povo inteiro.
No mês de julho de 1944, quando fugitivos contaram a verdade sobre Auschwitz, os líderes das organizações judaicas e sionistas decidiram enfim pressionar os governos aliados. Intervieram junto a Roosevelt e Churchill. Mas a diplomacia e os comandantes militares recusaram categoricamente bombardear Auschwitz.
Vários livros descreveram o abandono dos judeus, acusando os líderes norte-americanos e britânicos de ter deixado 150 mil judeus morrerem asfixiados entre julho e novembro de 1944. Eles poderiam ter sido salvos se as linhas de trem que levavam a Auschwitz tivessem sido bombardeadas. Bombardeiros norte-americanos chegaram a sobrevoar o campo para atingir um alvo próximo, a refinaria de petróleo.
A justificativa oficial para esse abandono foi resumida pelo secretário da Guerra dos EUA, John McCloy: O melhor modo de ajudar essas pessoas é ganhar a guerra.
Os historiadores também sublinham que os líderes judeus hesitavam em pedir o bombardeio do campo, temendo que as bombas só atingissem os deportados. Os dirigentes da Agência Judaica em Jerusalém votaram contra a idéia.
Hoje, 50 anos depois, várias pesquisas vão no sentido inverso, justificando a não-intervenção aliada: seria impossível visar as câmaras de gás, lê-se em obras recentes, e as perdas aliadas seriam muito pesadas. Resta, no entanto, um fato histórico incontornável: os estrategistas militares norte-americanos nunca estudaram seriamente o problema.
Quantos foram os mortos?
Resposta - Em 1945, os soviéticos calcularam 4 milhões de vítimas em Auschwitz. O trabalho de historiadores como Raul Hilberg permite estabelecer um número entre 1,1 e 1,5 milhão, dos quais 90% eram judeus. Nunca se saberá o número exato. As estimativas se apóiam na contabilidade alemã, mas uma parte dos arquivos, em particular a documentação do escritório de Eichmann, foi destruída.

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