São Paulo, quinta-feira, 26 de janeiro de 1995
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Governo tem poucas chances de sobreviver

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

O resultado da votação de ontem mostra que o governo de técnicos do economista Lamberto Dini nasce com vocação para ter uma morte súbita.
A aliança que conseguiu a sua aprovação é, na verdade, um balaio-de-gatos: ex-comunistas, ex-democrata-cristãos, liberais, republicanos e federalistas.
Os partidos que decidiram dar um voto de confiança a Dini alimentam em comum somente a rejeição a Berlusconi e o temor de que eleições antecipadas sirvam apenas para recolocar o empresário no poder.
A idéia desses aliados de última hora é aprovar a reforma eleitoral e uma nova lei que democratize o acesso dos partidos à televisão antes de realizar qualquer eleição.
Esses são dois dos quatro pontos do programa de governo propostos ontem por Dini.
O raciocínio dos neoaliados é que essas duas reformas, se realizadas, tornariam mais equilibradas as próximas eleições.
A primeira –e enorme– dificuldade de Dini será manter unidos políticos com interesses tão diversos como ex-comunistas, ex-democrata-cristãos e federalistas ao longo da implementação de seu programa.
A segunda, e não menor dificuldade, será domar o empresário Silvio Berlusconi. Ele não detém mais a maioria parlamentar, mas mostrou ontem que está perto de voltar a alcançá-la.
O seu bloco parlamentar votou coeso pela abstenção e ainda contou com a ajuda de 12 deputados federalistas, que se recusaram a seguir a orientação do líder do partido, Bossi, e anunciaram que estão deixando a agremiação.
Proprietário de três redes de televisão, Berlusconi vai lutar bravamente contra uma reforma na lei sobre propaganda política na TV que contrarie os seus interesses.
Este é um governo que pode acabar ao não resolver o seu primeiro impasse.

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