São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995
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Arapongas do PT vigiam atividades sindicais

LILIANA LAVORATTI; RUI NOGUEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RUI NOGUEIRA
Coordenador de Política da Sucursal de Brasília
A Secretaria de Segurança Pública do Governo do Distrito Federal, do PT, mantém informantes infiltrados no movimento sindical.
A Folha apurou que eles vigiam manifestações e assembléias e se infiltram em reuniões fechadas nos sindicatos. O governador Cristovam Buarque e os principais secretários do governo petista recebem todos os dias relatório da Segurança Pública com essas informações.
A Folha obteve cinco relatos sobre reuniões de bancários, rodoviários e servidores públicos.
No item "eventos sindicais de interesse da segurança pública", o relatório classifica o grau de mobilização dos trabalhadores em "fraco", "regular", "grande" e "muito grande".
Também indica se o grau de ânimo é "tranquilo", "agitado", "propenso a reação" ou "perigoso". Os relatórios mostram ainda que os arapongas da Segurança Pública vigiam o movimento de invasores de terras.
O secretário da Segurança Pública do governo petista, general da reserva Gilberto Serra, disse que faz um "acompanhamento normal para todo o governo". Segundo ele, "trata-se de uma política preocupada em prevenir antes de reprimir".
Serra afirmou que os dados são colhidos na rua, em manifestações públicas. O relatório 012/95, do último dia 23, no entanto, diz que "cerca de 150 pessoas compareceram à assembléia do Sindicato dos Rodoviários Urbanos", realizada na tarde do dia anterior na sede da entidade.
Os informantes detalharam as decisões tiradas na assembléia, entre elas, "realizar paralisações-relâmpago... sem definição de dia, hora e local".
O grau de mobilização da categoria foi avaliado como "fraco" e o ânimo dos motoristas considerado "tranquilo".
O secretário do Trabalho, Pedro Celso, ex-presidente da entidade (filiada à CUT), afirma que as informações também abrangem as invasões de terras. "Isso é imprescindível para o governo se precaver das armações". Celso defende que os dados "sempre sejam colhidos às claras".
O presidente da CUT de Brasília, José Zunga, duvida que a ação dos arapongas se estenda a outros movimentos, além do sindical.
"Por que a Secretaria de Segurança Pública não conseguiu antecipar a invasão de terras ocorrida em Sobradinho (cidade-satélite do DF), logo depois da posse do governador Cristovam Buarque", perguntou.
O governo do PT considerou a invasão uma armadilha da oposição para testar a nova administração sobre os condomínios irregulares, um dos problemas mais delicados da capital federal.
Zunga disse que o movimento sindical não tem nada a esconder e condena o uso de "olheiros e arapongas". O presidente da CUT convidou o secretário da Segurança Pública a participar de todas as assembléias da central sindical.
O novo governo criou no último dia 12 um fórum para reuniões mensais entre o governador Cristovam Buarque e os sindicatos.
Outro canal de diálogo com o sindicalismo se dá por meio de assessoria especial do gabinete do governador. Cristovam nomeou a ex-sindicalista Elzira do Espírito Santo para a função específica de ouvir reivindicações sindicais.

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