São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995 |
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Equilíbrio define melhor torneio do Brasil
WANDERLEY LUXEMBURGO
E não poderia ser diferente. Hoje, as equipes paulistas são as que têm melhor estrutura e maiores recursos financeiros. A novidade no Rio é que agora se vê uma ascensão dos clubes inédita nos últimos anos. Os dois aspectos mais importantes do Campeonato Paulista de 1995 são o equilíbrio entre os clubes e as mudanças em certas regras do futebol. Este será o campeonato mais equilibrado dos últimos anos. Algumas equipes do interior se reforçaram e, por outro lado, as equipes mais fortes, São Paulo e Palmeiras, estão mais niveladas com outras como Guarani e Corinthians. Essas quatro aparecem como favoritas no início do campeonato. O Guarani manteve a base do time que foi terceiro colocado no Brasileiro do ano passado e ainda se reforçou com os meias Djalminha, William e Uéslei. É um conjunto muito forte, equilibrado, mesmo com a saída do Sandoval, que é um bom jogador. O Palmeiras trocou alguns atletas importantes, mas a estrutura da equipe não mudou. Continua sendo muito forte e tem todas as condições de chegar ao tri. O Corinthians também manteve quase todo o time. Só trocou de técnico e obteve reforços. Tem a vantagem de que o novo técnico, Mário Sérgio, já conhece quase todos os jogadores. Eles estão juntos há um ano e formam um grupo unido. O São Paulo, que sofreu muitas mudanças com a entrada de jogadores do "Expressinho", está num plano inferior. Tem um grande técnico, o Telê, mas não o entrosamento que os outros três favoritos devem mostrar. A surpresa do campeonato deve ser a Portuguesa, sobre a qual pouco se tem noticiado. A manutenção do técnico Candinho e a contratação de bons reforços devem produzir um time capaz de ameaçar os favoritos. Em relação às regras introduzidas neste campeonato, acho que elas não elas acrescentam muito ao futebol e ainda poderão causar alguns problemas. O maior deles é que as mudanças tornam a partida ainda mais dependente da interpretação dos árbitros. Interpretações polêmicas foram o maior motivo de questionamento sobre as arbitragens no ano passado. Felizmente, foi abolida a regra do cartão azul (expulsão com substituição), que tinha tudo para se tornar a mais polêmica deste campeonato por ser a que mais dependia da interpretação. A adoção de 11 jogadores no banco é estimulante para o técnico. Principalmente nas equipes que têm reservas à altura dos titulares, essa mudança abre um horizonte maior de possibilidades para o técnico. Com 11 jogadores no banco, nunca, em princípio, será necessário colocar algum jogador fora da posição em que ele rende mais. Também ficará mais fácil criar alternativas táticas que mudem o jogo e, com isso, tornar a partida mais atraente para a torcida. Mas também existe o lado financeiro dessa questão. Colocar 11 jogadores no banco pode se tornar impraticável por esse motivo. Os gastos com premiação irão aumentar e isso pode se dar num nível que supere a capacidade de pagamentos de um time. Talvez a solução para as equipes seja adotar um número intermediário entre 5 e 11 e variar o número de reservas no banco conforme a partida. A volta da permissão para que o técnico possa ficar o jogo inteiro dentro da área técnica é louvável. Isso deixará que ele oriente com mais eficiência o seu time. Essa medida é boa não somente para o técnico, que poderá ter mais chances de sucesso na partida, como também para o público, que irá ver partidas melhores. Há um risco que pode tornar as partidas mais nervosas. Os árbitros não podem permitir que os técnicos aproveitem o fato de estarem mais perto do campo e tentem interferir na arbitragem. Deve haver um rigor absoluto quanto a isso. O técnico não pode se insurgir contra uma decisão do juiz. Se fizer, tem que ser expulso. Senão, vai virar bagunça e aí podem voltar atrás nesta regra, o que seria ruim para o futebol. Nesse ponto, entra a questão da interpretação do juiz. Cabe a ele decidir quando o técnico está se excedendo e quando não está. A decisão de parar o jogo para que o técnico possa orientar os jogadores seria boa se as regras fossem diferentes. Do jeito que está, não vejo muita utilidade. Quando se criou essa regra, pensou-se nos jogos de vôlei e basquete, que já a adotam há muito tempo. Mas há uma diferença fundamental, que é o tamanho do campo de jogo. Até os jogadores se reunirem em torno do técnico para receber a orientação, se perderá muito tempo. Mas o maior problema dessa regra é que o técnico tem que sinalizar até os 17min se quer o tempo ou não. É cedo demais. Até os 22min, quando ocorre a paralisação, muita coisa pode acontecer numa partida. Um time pode estar sendo dominado aos 17min, o técnico pedir tempo e quando o jogo parar a situação ser completamente inversa. Além disso, o momento mais importante de um jogo, do ponto de vista tático, varia de jogo para jogo. Pode acontecer tanto no começo quanto no final. Acho que o momento de parar a partida deveria ficar a cargo do treinador e não ser fixado. Outra questão é o momento escolhido para a bola parar. Numa situação hipotética, o meu time pode estar pressionando no momento de o adversário bater tiro-de-meta. Se o jogo parar, impedirá a marcação pressão, o que é prejudicial para a equipe. Acho que o jogo só poderia ser interrompido, quando a bola saísse em lateral no meio do campo. O que prevejo é que essa paralisação se torne uma arma de antijogo, usada para "esfriar" o ânimo do adversário. Não tenho dúvidas de que todo técnico de time pequeno vai pedir o tempo quando estiver enfrentando uma equipe grande. Neste ano, o número permitido de substituições foi aumentado. Com isso, os técnicos terão mais opções para variar a forma de sua equipe jogar durante a partida. Isso é muito bom. Na regra inicial do campeonato, previa-se uma substituição especial para o goleiro. Depois, ao que parece, ela foi retirada. Acho isso uma pena. A possibilidade da contusão do goleiro ameaça todas as equipes em qualquer jogo. Muitas substituições são retardadas ou evitadas por temor do técnico de que o goleiro se machuque e não possa ser substituído pelo seu reserva. Por esse motivo deveria haver uma troca reservada para o goleiro. Essa troca, poderia até ser restrita aos casos de contusão. Se o técnico decidisse trocar o seu camisa 1 por má atuação, ela deveria contar nas trocas normais da partida, mas é necessário que se preveja a possibilidade de o goleiro se machucar A decisão de que cada equipe possa usar num jogo no máximo quatro jogadores emprestados por outras equipes recebe todo o meu apoio. Há times que funcionam apenas durante as competições. Uma ou duas semanas antes dela, os seus diretores vão a outros clubes e tomam jogadores emprestados. Quando o campeonato termina, eles são devolvidos. Essas equipes não acrescentam nada ao esporte. Na prática, quase nem existem. Com a nova decisão, os clubes serão obrigados a manter uma equipe e a encontrar maneiras de se tornarem economicamente viáveis. Esse fato vai tornar as equipes mais fortes e entrosadas e o futebol mais bonito de ser visto. Texto Anterior: ESTRELA ASCENDENTE Próximo Texto: O GOSTO PELO PODER Índice |
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