São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995
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O GOSTO PELO PODER

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Eduardo José Farah, é uma pessoa contraditória.
No cargo desde 1988, ele havia dito que não tentaria a reeleição. Acabou de ser reeleito. Diz ser contra o continuísmo, mas apóia a segunda reeleição de Ricardo Teixeira na CBF.
Farah é uma figura polêmica. Alvo de acusações de enriquecimento ilícito, favorecimento e até ligação com o esquema PC, o cacique do futebol paulista está mais firme do que nunca.
Em entrevista à Folha, Farah, 60, fala sobre o Paulistão 95 e suas confusões, e sobre sua longevidade no cargo.
Folha - O Paulista 94 teve um público inferior a outros anos. Essa queda continua?
Farah - Em 94 fizemos uma experiência de turno e returno, com pontos corridos. O torcedor não assimilou esse modelo. Em 93 nós tivemos público e renda recordes em 12 anos. Creio que teremos novo recorde em 95, pois volta o modelo de 93.
Folha - A FPF tem algum plano de ação para coibir a violência entre as torcidas?
Farah - Nos últimos dois anos tivemos só um caso grave de violência em estádios de São Paulo. Preocupa a violência fora dos estádios, nos pontos de ônibus, estações do metrô. Para reduzi-la, vamos fazer um trabalho com a PM e campanhas de conscientização na mídia, pela TV.
Folha - O que ocorreu no caso do cartão azul?
Farah - A CBF entendia que era uma legislação própria e por isso não mandou uma documentação detalhada à Fifa. A Fifa vetou o cartão sem ter um instrumento de orientação, que nós mandamos ontem para a CBF. Houve uma falha de comunicação da CBF com a Fifa.
Folha - O sr. confirma que estádios com gramados ruins não serão aprovados?
Farah - Sem dúvida. Vamos nos basear nos relatórios dos árbitros das primeiras partidas e vamos ter uma comissão constituída por um atleta, um árbitro e um treinador, que conheçam como deve ser o gramado. Nós iríamos vetar a Vila Belmiro (estádio do Santos), mas o gramado já está em reformas.
Folha - Antes do Paulista 94, o sr. disse que não tentaria a reeleição. Por que então o sr. acaba de ser reeleito?
Farah - Eu disse mesmo que não seria candidato, mas fui pego por 96 clubes que assinaram um memorando e registraram a minha chapa. Não pude fugir à responsabilidade de atender a essa convocação. Mas eu já devia ter ido para casa.
Folha - O sr. sugere que a maré o conduziu, mas parece ser uma pessoa que conduz a maré. Não foi esse o caso?
Farah - Não. Eu na verdade sou apaixonado por futebol, mas não sou favorável à permanência por muito tempo num cargo. Achei que era a hora de dar uma parada, mas não deu.
Folha - Houve oposição?
Farah - Não, não houve nenhuma candidatura de oposição nas minhas duas reeleições. Sempre fui eleito por aclamação. Dessa vez houve a ausência do São Paulo, mas ausência não significa contestação.
Folha - Qual a sua ambição no futebol?
Farah - É servir bem ao futebol. Não sou filiado a nenhum partido político, não pretendo nenhum cargo político.
Folha - E mais reeleição?
Farah - É difícil dizer quero isso, não quero aquilo. Se depender de mim, vou para casa.
Folha - O sr. apóia a reeleição de Ricardo Teixeira na CBF. Isso não é o continuísmo que o sr. diz condenar?
Farah - Ele fez um ótimo trabalho internacional, mas está devendo em termos nacionais. Não gosto do Campeonato Brasileiro, da Copa do Brasil e da excessiva participação brasileira em torneios sul-americanos. E acho fraco o segundo escalão da CBF.
Folha - O sr. acha que os clubes devem votar na CBF, inclusive para a presidência?
Farah - Os clubes devem votar e deveriam ter voto de qualidade. Se os clubes não estiverem contentes com um dirigente, ele deve sair. O dia em que eu for votar na CBF, vou levar os clubes paulistas para votarem comigo. Se eles quiserem apoiar uma candidatura ou lançar um novo candidato, a FPF apóia.

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