São Paulo, sábado, 28 de janeiro de 1995
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Às reformas

Quando se recorda o otimismo que cercou a eleição de Fernando Henrique Cardoso, e mesmo o período que precedeu sua posse, a diferença para as expectativas que se vêem hoje é marcante e nada animadora. O momentum e o apoio de que FHC dispunha enfraqueceram-se com a aparência de letargia, de torpor que caracterizou esse anticlimático início de administração.
É nesse ambiente muito menos que ideal que o governo finalmente deu início, esta semana, ao processo de negociação da reforma constitucional, talvez a maior prioridade desta gestão e ainda mais urgente com as incertezas lançadas no cenário mundial pela crise do México.
É verdade que o Congresso que votará as propostas ainda não tomou posse, mas há tempos já se sabe o resultado da eleição, o que permitiria o início de conversações para agilizar o processo. De todo modo, se se perdeu a chance de aproveitar os bons ventos que sopravam antes, a solução agora é remar com empenho redobrado.
Chama a atenção desde logo a estratégia do governo de negociar com os partidos aliados separadamente. A intenção deve ser a de tentar conquistar o apoio de cada legenda. Infelizmente, a mais do que notória fluidez e debilidade das agremiações nacionais sugere grandes dificuldades nesse sentido.
Mais ainda, em se tratando de um tema que altera a própria estrutura do país, seria de esperar dos partidos que apresentassem propostas e estimulassem o debate. Lamentavelmente, a maior parte dessas agremiações parece mergulhada numa cômoda passividade.
Quanto às propostas de emenda constitucional apresentadas pelo governo, não há maiores novidades. Elas incluem, por exemplo, abertura para investimentos privados –inclusive externos– em diversas áreas, flexibilização do monopólio do petróleo e telecomunicações, reforma da Previdência, simplificação tributária e, no geral, uma redução da Constituição.
É uma agenda boa, com propostas corretas e necessárias. Mas o processo mal começou e o realismo faz prever negociações difíceis e obstáculos consideráveis, o que vai exigir do governo muito empenho no cumprimento do seu compromisso com o eleitorado. Com um agravante: após o abalo do México sobre a política da âncora cambial, a corrida das reformas não é só para chegar ao lugar certo. É também uma corrida contra o tempo.

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