São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995 |
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América Latina vai crescer menos, afirma Cavallo
CLÓVIS ROSSI
"Quem cresceria 7%, por exemplo, vai crescer 4%, 5% ou no máximo 6%", disse Cavallo, por mais que seja obrigado a usar um discurso otimista para afastar qualquer sombra de dúvida nos investidores estrangeiros. A previsão de Cavallo coincide, por exemplo, com a do economista venezuelano Moisés Naim, do Instituto Carnegie para a Paz Internacional (Washington). Naim acha que os governos do Brasil e da Argentina vão ter que agir, agora, com muita cautela, sob pena de desestabilizarem suas economias. "É indispensável para a região que Brasil e Argentina não se desestabilizem, sob pena de a América Latina viver outra década perdida", diz Naim. Esse risco extremo foi afastado tanto por Dorothéa Werneck, a ministra brasileira de Indústria, Comércio e Turismo, como pelo argentino Cavallo. "O Brasil vai conhecer crescimento contínuo nesta década e na próxima", diz Dorothéa, otimista incorrigível e assumida. A ministra foi além. O empresário francês Jacques Lefevre, vice-presidente da empresa de cimento Lafarge Coppee, lhe fez a seguinte pergunta: "No ano passado, o consenso neste Fórum era o de que os países latino-americanos seriam os 'dragões' do futuro. Depois da crise mexicana, essa percepção permanece válida?" Dorothéa respondeu direto: "Sim, a resposta é sim." Cavallo, algo mais contido, preferiu afirmar que "em nenhum de nossos países se dão as condições para uma recessão ou sequer para o estancamento". Mas ele admite que o episódio mexicano despertou o que chama de "certa margem de desconfiança" em relação ao conjunto de países latino-americanos. Mas jurou que essa descrença está sendo superada. "Mostramos ao mundo que, em termos estritos de política monetária, cambial e financeira, em nenhum país do Cone Sul se dá uma situação de desajuste como a que levou à desvalorização do peso mexicano." É uma contradição com ele próprio que, pouco antes, dissera que o México havia aplicado "boas políticas estruturais", o que obviamente não combina com o "desajuste" posteriormente apontado. Já o presidente argentino Carlos Menem se fechou na defesa do modelo argentino de câmbio fixo (e artificialmente elevado), uma das causas da crise mexicana. Em resposta a uma pergunta da Folha, Menem chegou a dizer que o que causou a crise mexicana "foi a desvalorização do peso e não a sua sobrevalorização". Engatou, em seguida, uma cerrada negativa de qualquer mexida no câmbio argentino. "A Argentina tem uma dura experiência de desvalorizações sucessivas, que levaram à hiperinflação, desgraçaram a nossa sociedade e destruíram a nossa moeda", afirmou. Na questão cambial, Dorothéa limitou-se a repetir a tônica preferida da equipe econômica desde o governo Itamar Franco, segundo a qual o Brasil não tem câmbio fixo e nem é regulado pelo governo, mas pela oferta e demanda por dólares. Texto Anterior: Governo pode ainda rever reformas Próximo Texto: Crédito é operação psicológica Índice |
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