São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Beatlemaníacos se rendem a seus ex-rivais e vibram com o show

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O sonho acabou, John Lennon morreu e os beatlemaníacos se renderam aos Rolling Stones. Se renderam com uma condição: a de que você comungue com a idéia de que os Stones são bons porque seguiram a cartilha dos Beatles.
Quase todos os beatlemaníacos vão ao show dos Stones, mas não esquecem a listinha de argumentos que comprovariam a superioridade dos Beatles.
"O primeiro sucesso dos Stones é uma música de Lennon e McCartney", diz Marco Antonio Mallagoli, 42, o beatlemaníaco número um do Brasil, baixista e diretor do fã-clube Revolution. A música era "I Wanna Be Your Man", lançada em dezembro de 1963.
Outros argumentos sempre remetem à idéia de cópia. "Eu seria prepotente se dissesse que os Stones copiavam os Beatles, mas seria mentiroso se dissesse que não", diz Mallagoli.
Uma das primeiras cópias seria a cítara de "Paint it Black" (1966). "Os Beatles usaram cítara pela primeira vez em 'Norwegian Wood', de 1965", ensina Marcus Rampazzo, 40, guitarrista e dublê de George Harrison na banda Beatles Forever.
"Yesterday", de 1965, trazia uma novidade para o rock: violão ao lado de cellos e violas. No ano seguinte, "As Tears Goes By", dos Stones, tinha o mesmo tipo de instrumentação.
"Os Stones têm personalidade, mas na época os grupos tinham que lançar dois LPs por ano e pegavam idéias dos outros", pondera Carlos Alberto Herédia Pereira, 36, guitarrista e cantor do Comitatus, banda que toca Beatles.
Se os Beatles eram a matriz e os Stones, a filial, por que então os beatlemaníacos se dispõem a ver um show de segunda mão?
"Também não é bem assim", responde Mallagoli. "No Brasil não havia a rivalidade entre Beatles e Stones que existia na Inglaterra e nos Estados Unidos. Nos anos 60 eu comprava discos dos Beatles e dos Stones."
Tanto que Mallagoli diz ter cerca de 80 discos dos Stones. É um número para stonemaníaco nenhum botar defeito, mas vira pó quando comparado aos 2.500 discos dos Beatles que ele tem.
A principal limitação dos Stones, segundo os beatlemaníacos, seria a repetição. "Os Beatles passaram por tudo, até pela valsa, e os Stones ficaram só no rock'n'roll", ilustra Rampazzo.

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