São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Devagar com o andor

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A discussão sobre a política cambial subiu de tom na última semana. A valorização da taxa de câmbio como instrumento de ancoragem dos preços internos é objeto de agressiva crítica de um grupo de economistas.
Não vou sujeitar o leitor da Folha à tortura de acompanhar os argumentos técnicos desse debate. Limito-me a discutir a lógica mais simples que está por trás da defesa da desvalorização do real e também tentar quantificar esta eventual correção da taxa de câmbio.
Desde a introdução do real a cotação do dólar caiu de R$ 1,00 para R$ 0,85. Com isto, os produtos produzidos no Brasil ficaram 15% mais caros em dólares e os importados 15% mais baratos em reais.
Isso ocorreu por uma decisão autônoma do Banco Central, para evitar uma emissão de reais na economia.
O outro componente da valorização veio em função da inflação de julho de 94 até agora. Como a taxa de câmbio ficou fixa, tivemos importações mais baratas e exportações mais caras.
Com a abertura comercial, esse efeito magnificou o aumento de nossa importações e, como decorrência, determinou uma queda expressiva de nosso saldo comercial.
Os críticos da âncora cambial defendem uma desvalorização equivalente à soma desses dois efeitos para reequilibrar nossas contas externas.
Se não há dúvida sobre o valor da correção da taxa de câmbio, de R$ 0,85 para R$ 1,00, na questão da inflação a quantificação é mais difícil. Alguns economistas defendem a correção pela variação do IPC no período, de cerca de 25%.
Mas basta olhar para a composição dos aumentos de preço ao consumidor para concluir a sandice dessa proposta. Mais de 2/3 da inflação acumulada até agora são representados por aluguéis residenciais e serviços pessoais. Que não representam aumento dos custos industriais, a não ser pela parcela repassada aos salários.
Outros custos industriais importantes, representados pelos serviços públicos em geral, estão estáveis há seis meses. Alguns, como os combustíveis, tiveram seus preços diminuídos.
Além disso, os componentes importados dos produtos nacionais ficaram mais baratos pela valorização do câmbio.

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