São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Cientistas buscam vacina contra pneumonia

JOSÉ REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Era sombrio o quadro da pneumonia devida ao pneumococo (Streptococcus pneumoniae) até o advento das sulfas e, principalmente, dos antibióticos.
Esses compostos produziram uma revolução tão grande no tratamento, reduzindo a mortalidade e os riscos da infecção, que praticamente se suspenderam as pesquisas sobre vacinação contra ela.
Certo é que não se erradicou o germe, que continua a ser uma das principais causas de pneumonia bacteriana, principalmente quando se trata de crianças, idosos e determinados tipos de pacientes com doença crônica ou portadores de imunodeficiência, como na Aids.
Esses grupos, lembra George Siber ("Science", 265, 385), acham-se mais sujeitos ao risco de disseminação da bactéria pela corrente sanguínea, atingindo o sistema nervoso central (meninges).
Em países como os Estados Unidos, que adotaram a universalização da vacina contra o Haemophilus influenzae b, o pneumococo passou a ser a principal causa de meningite bacteriana, ocupando o lugar que antes pertencia ao hemófilo.
No mundo todo, o pneumococo é causa mais comum de infecções respiratórias e mata um total superior a um milhão de crianças a cada ano.
As coisas principiaram a complicar-se, porém, quando começaram a aparecer amostras do micróbio resistentes aos antibióticos.
Voltou-se então a considerar a retomada de antigas tentativas de vacinação.
O pneumococo é bactéria provida de cápsula, revestimento constituído de açúcares complexos (polissacarídeos) que impede o ataque das células de defesa e a fagocitose (englobamento e digestão) dos micróbios.
Recorreu-se naturalmente à produção de anticorpos (substâncias específicas de defesa) que atacassem a cápsula e tornassem vulnerável a parte interna e ativa do pneumococo.
A prática mostrou que o caminho estava certo, mas a ela se opunha uma grande dificuldade: sorologicamente os pneumococos diferem muito uns dos outros quanto à cápsula, havendo quase uma centena de tipos capsulares diversos, que não mostram imunidade cruzada.
R. Austrian e colaboradores e pesquisadores da Merck, Sharp e Dohme com incrível paciência e tenacidade separaram uma dezena de tipos capsulares e prepararam vacinas individuais contra eles.
Misturaram depois esses produtos e obtiveram uma vacina única. Estava dado um grande passo, pois essa vacina única protegia contra cada um dos tipos que a compunham. E mostrava-se eficaz em 75% dos animais experimentados.
Infelizmente essas vacinas de polissacarídeos purificados não se revelaram eficientes em crianças abaixo de 2 anos, precisamente o grupo mais necessitado delas porque é o que tem maior frequência de infecção pneumocócica invasiva e meningite.
Algumas outras espécies de pacientes também se mostram insensíveis a esse tipo vacina.
Mas os cientistas não desanimaram e decidiram incorporar aos polissacarídeos uma proteína. A nova vacina, "conjugada", revela-se ativa e possivelmente servirá de base às novíssimas vacinas que, espera-se, poderão ser comercializadas em 1998.
Nesse entretempo os pesquisadores certamente terão resolvido as dúvidas que ainda restam. A obtenção de uma vacina pneumocócica a crianças, diz Sieber, talvez permita integrá-la nos esquemas rotineiros de vacinação sistemática.

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