São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Autor revela relação com Cuba

ROGÉRIO SIMÕES
DE LONDRES

Depois de trinta anos longe de seu país, o escritor cubano Guillermo Cabrera Infante resolveu colocar num livro seus sentimentos sobre Cuba.
Ao invés de escrever uma tese sobre a ilha, ele reuniu seus antigos ensaios, publicados em diversos veículos da imprensa internacional desde 1968.
O livro foi chamado de "Mea Cuba" (Editora Faber and Faber, 491 páginas, US$ 28), nome que revela a relação pessoal que marca o livro, de um cidadão com o país que continua sendo seu.
Cabrera Infante, que vive hoje em Londres, saiu de Cuba em outubro de 1965. Desde então, um sentimento de decepção e espanto em relação ao destino da Revolução Cubana tomam conta de seu pensamento, segundo mostram os textos em "Mea Cuba".
O autor relata as vidas de seus amigos (como o escritor Calvert Casey) e seus companheiros de trabalho. Todos de alguma forma marcados pelas vontades da revolução e de seu líder.
Para mostrar alguns danos sociais do caminho político do país, Cabrera Infante descreve as belezas, o ambiente e as atrações de Havana, a cidade amada pelos escritores que lá estiveram.
Em seguida, registra o que o destino lhe reservou: "Castro pode não odiar Havana como Guevara odiava, mas as necessidades criadas por seu governo e o oportunismo com que esses problemas mal foram resolvidos estiveram mais visíveis em Havana que em qualquer outra parte do país".
Nos artigos de "Mea Cuba", o autor centraliza seu rancor na história dos que perderam, os que tiveram de abrir mão da liberdade e foram perseguidos por sua oposição ao regime.
Ele relata a perseguição a homossexuais no país, para em seguida apontar a ironia: "O coração do mundo homossexual é em San Francisco e é chamado de Rua Castro".
Um dos textos do livro conta em detalhes, com paixão e admiração, a história de Gustavo Arcos, embaixador cubano na Bélgica, onde Cabrera Infante foi adido cultural até pouco antes de se exilar.
Para Cabrera Infante, Arcos é o exemplo de vítima da ditadura castrista. "Eles não matam escritores. Eles matam, precisamente, homens sem imaginação como Gustavo Arcos. Eles matam seus heróis", escreveu em 1984.
Ao mesmo tempo que ataca Fidel Castro e a filosofia que comanda Cuba desde 1959, o autor lembra a história dos poetas e heróis do país, como José Martí.
"Em Cuba, eles socializaram a pobreza", diz Cabrera Infante, que demonstra sentir-se traído pela história e roubado por Castro.
"Mea Cuba" é uma coleção de desabafos contra a ilha que o escritor observa de longe. Ilha que insiste em ser socialista, enquanto seu líder assim quiser.

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