São Paulo, domingo, 29 de janeiro de 1995
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Empurroterapia; Salário mínimo; Pedra Furada; Auschwitz

Empurroterapia
"A categoria farmacêutica sente-se grata por, finalmente, estar acompanhando a discussão sobre a qualidade do medicamento e sua importância como instrumento de saúde. O jornalista Gilberto Dimenstein tem abordado o tema em sua coluna nesta Folha. No dia 25/01, ele encerra seu artigo, 'Quadrilhas da Saúde', com um comentário feito pelo sr. José Eduardo Bandeira de Mello, presidente da Abifarma, sobre aquilo que, no comércio de produtos farmacêuticos, se conhece por 'empurroterapia', ou seja, o ato de o laboratório 'empurrar' um medicamento ao balconista e este empurrá-lo aos consumidores. O jornalista acerta ao comentar essa prática danosa à saúde pública. Porém, há um erro na afirmação de Bandeira de Mello de que o farmacêutico, profissional de graduação universitária comumente confundido com o balconista do estabelecimento, dela se beneficie. Os farmacêuticos repudiam esse comportamento e renovam o compromisso com o desenvolvimento sadio e responsável de nosso povo."
Gilda Almeida de Souza, presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

"O professor Elisaldo Carlini, da Vigilância Sanitária, começou no caminho certo a implantação dos medicamentos genéricos no Brasil. Primeiro conhecer o número, a qualidade do preparo e que tipos de laboratórios estão produzindo os medicamentos no país antes de obrigar todos os quase 600 laboratórios a usar os genéricos (nome do produto químico ao invés do nome de fantasia), como queria o governo Itamar. O genérico baratearia o medicamento em até 30%."
José Knoplich, presidente da Associação Paulista de Medicina (São Paulo, SP)

"Excelente o editorial da Folha 'Remédios perigosos' (26/01). A população em geral e a classe médica em particular estão exigindo das autoridades médicas, da Vigilância Sanitária, medidas urgentes para um controle mais rigoroso, de maneira continuada, dos medicamentos fabricados no país e a punição rigorosa dos empresários e farmacêuticos envolvidos nessas fraudes que põem em risco a saúde do povo."
Mário Negreiros dos Anjos (Rio de Janeiro, RJ)

"Concordo com o sr. Dimenstein (27/01), condenando a não-informação à população sobre a falsificação do Fenergan, seguindo orientação dos órgãos de Vigilância. A população tem o direito de ser informada e é preciso ainda formação com qualidade dos técnicos da Vigilância Sanitária. Vamos democratizar o conhecimento, chega de retórica sobre participação."
Cátia Maria Justo Meirelles (Marília, SP)

"Queremos parabenizar Gilberto Dimenstein e a Folha pela cobertura jornalística séria que vêm dando à questão dos medicamentos no Brasil. De outro lado, é nosso dever discordar do experiente jornalista quando, em seu artigo do dia 25/01, dando crédito às opiniões do presidente da Abifarma, afirma que os farmacêuticos participam dos negócios escusos das farmácias e laboratórios, empurrando remédios sem qualidade. Devemos lembrá-lo que, no Brasil, menos de 10% das farmácias são de propriedade de farmacêuticos."
Davi Ferreira de Santana, presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de Pernambuco (Recife, PE)

Salário mínimo
"O presidente-sociólogo já anunciou que vai vetar o novo salário mínimo de R$ 100. Outro fato que causa espanto é que com o reajuste salarial com que o presidente Fernando Henrique foi agraciado, o salário do presidente, que valia em janeiro/94 cerca de 76 salários mínimos, passa em janeiro/95 a valer 121 salários mínimos. Sobre isso o presidente se cala. Afinal, não é fácil para ele explicar para a mesma sociedade à qual ele constantemente nega melhores salários que justamente o seu salário foi muito bem reajustado, trazendo embutido até um percentual de ganho real."
Mauro Passos, presidente do Sindicato dos Eletricitários (Florianópolis, SC)

"O anunciado veto ao reajuste do salário mínimo desacredita dois compromissos de posse de FHC de respeitar a Constituição e ficar do lado da maioria contra os privilégios de poucos. O presidente devia baixar uma medida provisória para a cobrança drástica e urgente, sob pena de confisco de bens, da dívida dos principais criminosos fiscais, principalmente as pessoas jurídicas, cujos nomes as autoridades conhecem muito bem, inclusive dos que se apropriam indevidamente dos bilhões do FGTS e da Previdência, cobrados dos trabalhadores e não repassados ao erário."
Deodato Rivera (Rio de Janeiro, RJ)

"O número e valores não pagos de parcelas de débitos 'renegociados' de empresas junto ao INSS é impressionante. Fora o que se convencionou chamar de economia informal e os escândalos de aposentadorias fraudulentas. Será que é o mínimo de R$ 100 que vai quebrar a Previdência?"
Sérgio Mário Seidi Sumi (Ribeirão Preto, SP)

"Parabéns ao prefeito da pequena cidade pernambucana de Escada, que instituiu o salário mínimo de R$ 100 para seus funcionários. São exemplos como este que ainda me fazem acreditar no Brasil."
Alex O. R. de Lima (São Paulo, SP)

"Infelizmente não estou de acordo com a 'idéia' do senador Serra, que muito admiro, sobre a regionalização do salário mínimo. Mas como explicar? Simples, simplíssimo: basta ler o artigo do jornalista Josias de Souza, na Folha do dia 15/01. Magnífico em toda a sua dimensão. Resta-me a esperança de que senadores e deputados pensem da mesma maneira."
Francisco de Assis Jarussi (São Paulo, SP)

Pedra Furada
"Gostaríamos de parabenizar Ricardo Bonalume Neto por ter divulgado no Brasil, na edição de 25/01, o artigo dos arqueólogos Meltzer, Adovasio e Dillehay, fazendo uma releitura dos supostos achados arqueológicos pleistocênicos no Boqueirão da Pedra Furada, no Piauí. Por omissão da comunidade arqueológica nacional, temos assistido alarmados a ampla divulgação entre a população brasileira, e sobretudo entre aquela em idade escolar, de que a América foi ocupada há cerca de 50 mil anos. Desde o início, as evidências materiais apresentadas pela equipe liderada pela dra. Niède Guidon mostraram-se de grande fragilidade. O artigo dos três renomados arqueólogos americanos traz uma surpresa adicional: a fragilidade das próprias pesquisas de campo efetuadas em Pedra Furada. Causa constrangimento a declaração da professora Guidon a esta Folha de que entregará o sítio para escavações independentes com técnicas mais modernas. O fato é que não existem escavações mais ou menos modernas. O que existe é rigor metodológico, o que, a julgar pelas últimas informações, esteve longe de ser aplicado no Piauí."
Walter Neves, presidente da Associação Latino-americana de Antropologia Biológica e Eduardo Neves, do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP (São Paulo, SP)

Auschwitz
"Justamente na época em que comemoramos a libertação de Auschwitz e após a assinatura do acordo de paz entre Israel e o mundo árabe, outra vez fomos surpreendidos com um atentado repugnante que vitimou, indiscriminadamente, 85 pessoas, sendo que 20 fatais. Fica em nossas mentes hoje uma pergunta apenas: o sangue judeu derramado em Auschwitz não bastou?"
Alfredo Frajdenberg (Rio de Janeiro, RJ)

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