São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 1995 |
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Baterista é o astro no país do batuque
MARIO CESAR CARVALHO
Os aplausos duram cerca de dois minutos. Começam quando Jagger apresenta a banda em português: "O superelegante Charlie Watts!" (no sábado, ele suprimiu o super). No primeiro minuto, Watts levanta da bateria e faz uma reverência, como se fosse uma senha para a ovação cessar. Os aplausos continuam. Ele levanta de novo, com ar tímido, olhos molhados, como se dissesse: "Mas por que eu?" Jagger, Richards e Ron Wood aplaudem com a mesma interrogação no rosto: "Por que ele?" A pergunta é boa: por que ele? Watts é o mais velho da banda. Tem 53 anos, contra os 51 de Jagger e Richards e os 47 de Wood. Veste-se como se fosse tocar na festa de aniversário do sobrinho: calça social, camiseta cinza e meias brancas (não usa sapatos no show). Os cabelos grisalhos e um certo ar de enfado frisam o traje. Seu número é esse: Watts parece ser de um outro mundo que não o do rock'n'roll. O gosto pelo jazz e a "big band" que montou só reforçam a imagem alienígena. A primeira resposta ao por que dos aplausos é que Watts simboliza o oposto da extravagância e da vulgaridade que movem o pop. É a anti-Madonna, o anti-Jagger. O público adora anti-heróis. A segunda resposta possível é que os Stones estão tocando no país do batuque. Os urros a Charlie Watts são a prova dos nove da ancestralidade. A terceira resposta é que Watts sintetiza o que restou do velho rock'n'roll nos Stones. É o seu segredo musical: conhece as filigranas do jazz, mas nos Stones toca como o baterista de Buddy Holly em 1958. Texto Anterior: Rita Lee corta quatro músicas a pedido da produção dos Stones Próximo Texto: Professora ensina Jagger a dizer 'gatíssima' Índice |
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