São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 1995
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Médicos pedem campanha antiálcool

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Profissionais da saúde que trabalham com dependentes de drogas, entre elas o fumo e o álcool, consideram que a preocupação mostrada pelo Ministério da Saúde com relação ao cigarro deveria se estender às bebidas alcoólicas. Segundo eles, o álcool faz tanto mal quanto o fumo e muita gente não sabe ou não pensa nisso.
Na semana passada, o ministro Adib Jatene afirmou que pensa em aumentar o IPI –Imposto sobre Produtos Industrializados– dos cigarros e bebidas alcoólicas.
Uma portaria do ex-ministro Henrique Santillo, publicada no início do mês, impunha restrições à propaganda do cigarro.
A portaria foi suspensa temporariamente por Jatene.
Não há tarjas de advertência nas garrafas de bebida e nas propagandas. "Algumas indústrias estão fazendo isso por iniciativa própria, mas as tarjas são tão pequenas que nem sempre são notadas", diz a psicóloga Ilana Pinsky, pesquisadora da Unidade de Dependência de Drogas da Escola Paulista de Medicina (EPM).
Ilana é autora de uma tese sobre propaganda de bebidas alcoólicas na TV defendida no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo no ano passado.
Uma das conclusões de seu estudo: a cada hora que passa diante da TV no horário nobre, o brasileiro vê em média uma propaganda de bebida alcoólica, média três vezes maior que nos EUA. Ilana constatou que 23,5% delas relacionavam o álcool ao relaxamento e 17,7% a símbolos nacionais –do tipo é "coisa nossa" ou uma "paixão nacional".
Os comerciais de bebida, como os demais, são regulados pelo Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária.
Ilana é contrária a restrições severas impostas pelo governo. Acredita que as partes envolvidas –governo, indústria, mídia e pessoal de saúde– deveriam dialogar para chegar a um consenso. "É preciso que as medidas sejam democráticas e tenham respaldo científico. Uma tarja numa garrafa funcionaria? Não sabemos."
Essa mesma pergunta é colocada pelo secretário de Estado da Saúde, José da Silva Guedes. "As pessoas precisam ser informadas sobre os danos que o álcool causa. Mas será que uma advertência colocada numa garrafa de 51, por exemplo, teria alguma eficácia?"
José Carlos Galduróz, psiquiatra do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da EPM, diz que a prevenção deveria começar na escola. "O álcool é de longe a droga mais consumida. A pessoa que bebe só decide tomar uma atitude quando começa a sentir os efeitos do álcool. Aí, em geral, seu organismo e sua sanidade já estão bastante comprometidos."

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