São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Saturação de imagem

NELSON DE SÁ
FOI ALÉM DA CONTA.

Em certo momento estavam no ar, ao vivo, Palmeiras e Portuguesa em dois canais da TVA, Santos e União São João na Sportv, Ponte Preta e Bragantino no Multishow, Vasco e São Cristóvão na GNT, os três canais da Globosat, mais Real Madrid e Betis na Bandeirantes.
Pouco antes, Genoa e Milan na TVA. Pouco antes, os aspirantes de Palmeiras e Portuguesa na Bandeirantes. Pouco depois, também na Bandeirantes, os juniores de Brasil e Argentina. Isso tudo no domingo, tudo ao vivo.
Tem mais. No sábado à tarde, também ao vivo, Corinthians e XV de Piracicaba, na Globo e na Bandeirantes. Na sexta-feira à noite, sempre ao vivo, Flamengo e seleção do Uruguai.
Por maior que seja a paixão pelo futebol, trata-se de uma evidente anormalidade, tanto jogo assim. E nem estão contados os jogos em VT. Um exagero, de responsabilidade do Campeonato Paulista, em especial.

Um passo atrás
Tanta quantidade não resultou, nem poderia resultar, em maior qualidade. Pelo contrário, depois do salto das transmissões da Globo no final do Campeonato Brasileiro, a cobertura de futebol volta a cair.
São poucas câmeras, poucos closes, tanto nas emissoras abertas como nas fechadas, longe da experiência de jogar o espectador no campo, que foi o que se viu no ano passado.
Como esperado, a Globo foi a única que ainda arriscou alguma coisa, com as imagens bem próximas dos treinadores Mário Sérgio e Rubens Minelli, por exemplo, além de recursos como o microfone dentro do gol, mas nada que deixasse impressão.
Ainda que deixasse, aliás, tal impressão seria logo derrubada pelos comentários de Raul Plassmann.

Tempo técnico
Uma novidade do Campeonato Paulista, o "tempo técnico" que os treinadores podem solicitar, não teve o efeito esperado na televisão.
Já no sábado, Bandeirantes e Globo deixavam passar a chance do intervalo comercial, tido como a justificativa da mudança. TVA e Globosat, no domingo, a mesma coisa.
Sem saber o que fazer com a novidade, as emissoras deixaram as câmeras fechadas nos jogadores, resultando em maior exposição comercial, mas dos novos patrocinadores dos clubes, como Suvinil, do Corinthians, e Unicór, do Santos.

Conflito
Diferente da cobertura das redes abertas, dividida muito amigavelmente entre Bandeirantes e Globo, TVA e Globosat iniciaram no domingo uma concorrência bem mais violenta.
Ou melhor, deram sequência ao conflito, que já era possível acompanhar no ano passado, quando a Globosat teve a prioridade e a TVA foi mantida em segundo plano, no Campeonato Paulista.
Este ano é a TVA que está na frente, com o direito de transmissão dos grandes jogos, dos clássicos, como Palmeiras e Portuguesa, ontem.
A transmissão quase simultânea dos três jogos de ontem pela Globosat, dois deles do Campeonato Paulista, foi uma tentativa de resposta. Outra reação foi o investimento nos comentários, com Mauro Beting e com o incrivelmente mal-humorado Sócrates.

Transmissão simultânea
Na TVA, o direito aos jogos clássicos, que foram saudados pelo comentarista José Trajano com um "enfim estamos ao vivo", no início de Palmeiras e Portuguesa, foi acompanhado de investimentos na programação.
Seguindo experiências de rádio, entrou no ar o "TVA Abre o Jogo", uma espécie de aquecimento, de plantão, antes dos jogos.
Em uma hora, traz informações pouco comuns sobre as partidas, que vão do histórico de confrontos às proporções do gramado, além de comentários, de pesquisa por telefone, da participação por fax.
Na transmissão das partidas, propriamente, nenhuma novidade.
A novidade nesta abertura de temporada é mesmo o volume, a quantidade. Uma mudança que chegou a extremos, alguns estapafúrdios.
Na Bandeirantes, para citar um último, houve a transmissão simultânea de dois jogos. Nos últimos minutos de Palmeiras e Portuguesa, nos aspirantes, uma janela mostrava os primeiros minutos de Real Madrid e Betis.
Um programa que não é mais para entusiastas do futebol, mas para viciados.
E hoje tem mais, ao vivo.

Texto Anterior: 'Dá peninha de quem perde'
Próximo Texto: Nenhum time põe 11 reservas no banco
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.