São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 1995
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COURTNEY LOVE

DA "SPIN"

Em abril passado, o grupo Hole lançou seu segundo álbum. Quatro dias antes, Kurt Cobain, marido da líder da banda, Courtney Love, havia se suicidado com um tiro.
Um show de Hole nunca é só um agito do rock. Pode ser tudo ou nada. Depende de como está o dia de Love. E eles são tumultuados.
Na tarde seguinte ao show de Hole em Los Angeles, sua aparição é inesquecível. A pele pálida, mãos e braços cheios de arranhões e o cabelo loiro lutando por espaço com raízes pretas e mechas cor-de-rosa.
Enquanto isso, Frances Bean Cobain, 2, filha de Courtney com Cobain, entra na sala. "Você viu mamãe tocar ontem? Toquei alto?", pergunta à criança.
Courtney sabe que em algum momento, Frances saberá que o pai se matou com um tiro. Mas, por enquanto, se ocupa em mantê-lo vivo na memória da filha. "Quem é este?", pergunta mostrando uma foto de Kurt Cobain. "É o papai", responde.
Nem todos os momentos são bonitos. Frances olha o clipe da MTV e confunde o pop star de plantão com o pai. Da pilha de CDs, tira um disco do Nirvana e aponta para Kurt Cobain.
A vida pregressa de Love dá uma boa idéia do caos em vive.
Hank Harrison, seu pai, era um biógrafo do grupo Greatful Dead. Linda Carrol, a mãe, era psicanalista.
Separados, Carroll obteve a custódia da menina. Mudou o nome da filha para Courtney Michelle Harrison. Depois para Courtney Michelle Rodriguez, Courtney Michelle Manely e Courtney Love.
Mãe e filha foram para o Oregon, onde a mãe conheceu o padrasto, Frank Rodriguez. Os dois se divorciaram rápido e durante um rafting, Carroll conheceu o marido número 3, David Manely. Courtney Love tinha 7 anos. Sua casa pululava de hippies.
"Acho que eu dava muito trabalho." De colégio em colégio e de terapeuta em terapeuta, ela começou a roubar lojas. "Achava que roubar era o máximo."
Após uma estada na Nova Zelândia, a garota foi viver com Rodriguez, em Portland (EUA). Na sétima série, se encantou com garotas delinquentes."Comecei a andar em shoppings com prostitutas teens."
Courtney mostra a casa em que vivia com Kurt Cobain, em Seattle. Nos jardins estão parte de suas cinzas. Outra fica sob um Buda no quarto de Love. Outra na sala e finalmente uma pequena parte está na Índia."
Courtney conta sobre a tentativa de suicídio de Kurt Cobain em Roma. "Fazia 26 dias que não nos víamos. Tomamos champanhe e pegamos no sono. Ele deve ter acordado para me escrever a carta, em que reclamava de ser rejeitado. Acordei às 4h e ele não estava. Ele estava no chão e parecia morto."
Ele lamenta uma série de incidentes durante o último mês de vida de Cobain. "Eu fui embora porque ele estava louco e eu desesperada. Não aguentava mais. Nunca o beijei ou me despedi dele."
Cobain tentou encontrar a mulher pela última vez no dia 2 de abril no hotel em que ela estava hospedada. "Eu pedi um bloqueio no telefone para todo mundo. Menos para Kurt. Ligava a cada duas horas para repassar essa instrução às telefonistas. E ele ligou. Bloquearam sua maldita ligação às 8h45. Eu não estava dormindo. O que significou para ele é que eu estava do outro lado e não queria falar com ele."
"Imagine isso: você finalmente encontrou alguém do sexo oposto com quem pode escrever junto. Nunca havia acontecido antes em sua vida. E você está apaixonada, tem um melhor amigo, um parceiro de corpo e alma. E como bônus, ele é lindo. E é rico. E é astro do rock. E é a melhor trepada do mundo. E ele quer ter bebês. E você quer ter bebês. E ele completa suas frases. E ele é preguiçoso, mas não fica encabulado ao falar de Jesus ou rezar. E você acha que dá para consertá-lo. É única felicidade que jamais tive."

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