São Paulo, segunda-feira, 30 de janeiro de 1995
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Trabalhar na brodagem pode cansar, mas o resultado vale

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

A brodagem está em todos os lugares. Até na "Veja", onde meu velho colega de redação Celso Masson, outro dia, definiu "brodagem" de uma maneira meio limitada.
Ele estava falando da qualidade dos novos clipes, e explicou que um clipe lá tinha sido feito na base da brodagem, querendo dizer que foi feito sem grana. Todo mundo se ajudou, trabalhou na faixa e o clipe saiu.
O Masson faz parte da comunidade da brodagem, mas nesse caso a explicação ficou pela metade. Como a compreensão da brodagem é fundamental para quem quer fazer música e se possível ganhar dinheiro com isso, vou tentar esclarecer a parada. Afinal, assisti ao nascimento do conceito. Foi na "Bizz", uns dois ou três anos atrás. O Miranda já era o profeta-mor da armação, e o Renato Yada, que trabalhava lá na arte, um dia soltou lá: "O Miranda só trabalha na base da brodagem". O que você espera de um cara que saiu para acompanhar a gravação de um disco dos Titãs e, três meses depois, era diretor artístico de um selo dos caras? E contratando todas as bandas que achava legal? E fazendo essas bandas acontecerem, com pouquíssimo dinheiro para a divulgação e promoção? O Miranda é a grande referência de quem tem banda nova e quer se dar bem (por que você acha que todas as bandas do Brasil falam "véio"?). Então, essa rapaziada toda foi sacando como funciona a brodagem.
Mas isso não quer dizer que todo mundo tenha entendido direito a história. Como boa parte das coisas legais deste planeta, o conceito de brodagem tem raízes italianas. É basicamente uma máfia e vem, claro, de "brother".
"Brother" é um cara que pode até nem ser seu amigo íntimo nem nada, mas tem algumas coisas básicas em comum com você. Mais importante, brother é um cara que tem em comum com você uma espécie de compreensão do universo. Tipo "Isso aqui é um lugar caótico e injusto, mas pode ser divertido e OK, se todo mundo que for esperto se ajudar".
"Brodagem" é, portanto , a) uma comunidade; e b) a maneira específica como a rapaziada se ajuda. É simples assim. E complicado paca, também.
Porque, às vezes, se ajudar quer dizer armar algumas coisas, trabalhar para caramba sem ganhar nada, emgambelar quem for engambelável, mentir para cacete e mais um monte de coisas que podem até, em princípio, não ser muito agradável e talvez nem muito "ético". Mas como é por um fim digno e válido, que é a brodagem se dar bem, então está valendo.
Afinal, brother é para isso.

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