São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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O grande desperdício

ALFREDO MARIO SAVELLI

O Instituto de Engenharia manifesta a preocupação da coletividade dos engenheiros diante de prejuízos ambientais e sócio-econômicos que vêm sendo causados à comunidade por regras operativas inadequadas ao sistema Tietê-Billings.
A Constituição paulista estabeleceu prazo de três anos para que os poderes públicos tomassem medidas eficazes que impedissem a represa Billings de receber águas servidas e substâncias poluentes.
Providências eficazes foram propostas pelo projeto Tietê, mas sem a efetivação das mesmas e a ampliação das estações de tratamento, a represa Billings continuará sendo o principal dispositivo depurador dos esgotos de São Paulo.
Em razão de seu grande volume e superfície, a Billings funciona como importante lagoa de autodepuração e recuperação de qualidade dos recursos hídricos regionais, propiciando múltiplos usos de seus efluentes, como complementação do abastecimento público da Baixada Santista, amortecedor de cheias na Grande São Paulo, suprimento de água do Parque Industrial de Cubatão e geração de energia na usina hidrelétrica Henry Borden, de localização privilegiada e excepcional produtividade, com capacidade instalada de 880.000 kw.
A parada abrupta do bombeamento para a Billings, decidida em 1992, acarretou exportação dos esgotos de São Paulo para as cidades ribeirinhas do médio Tietê. Esse despejo dos esgotos urbanos diretamente para o rio é uma agressão ao meio ambiente e coloca em risco a saúde, a economia e o ecossistema.
A operação da Usina Henry Borden pode produzir receita anual superior a US$ 200 milhões –quando o governo anterior pretendia arrecadar US$ 600 milhões com a venda de um terço das ações da Eletropaulo. Parte dessa receita energética pode e deve ser canalizada para o projeto de despoluição do rio Tietê.
Consciente de sua responsabilidade como tradicional organização da sociedade civil, dedicada ao equacionamento de problemas técnicos, o Instituto de Engenharia propõe:
O sistema Tietê-Billings, sujeito a usos múltiplos conflitantes, exige medidas urgentes e corajosas para atendimento de suas finalidades e não deve ser explorado politicamente de forma inadequada;
As decisões relativas a regras operacionais do sistema Tietê-Billings devem sempre ser tecnicamente fundamentadas visando a otimizar os benefícios ecológicos, sanitários, sociais e econômicos da comunidade.

ALFREDO MÁRIO SAVELLI, 57, engenheiro civil e industrial, é presidente do Instituto de Engenharia e professor de Planejamento das Construções da Escola de Engenharia Mackenzie.

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