São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Polícia apreende 1 tonelada de fogos

DA REPORTAGEM LOCAL E DA FT

A polícia apreendeu uma tonelada de fogos de artifício ontem na Vila Jaguara, Pirituba, (zona oeste). Eles estavam nos fundos da garagem de uma casa na rua União da Vitória, 97.
O dono da casa, Ciro Gomes, fugiu. Sua mulher, Maria Rita de Cássia Gomes, 33 anos, foi presa por posse e armazenamento de fogos e liberada após pagar R$ 150,00 de fiança.
Os fogos foram levados para a Divisão de Produtos Controlados da Polícia Civil.

Lojas
Existem cerca de 6.000 lojas em São Paulo que vendem artigos religiosos para cultos de candomblé e umbanda. Quase todas elas comercializam fogos usados em festas e pólvora utilizada em rituais.
Muitas dessas "casas de umbanda" não são legalizadas e a grande maioria não tem autorização para vender fogos. O número de lojas foi levantado por Rita de Cássia Amaral, pós-graduanda de antropologia e autora de um estudo sobre as festas de candomblé em São Paulo.
Segundo ela, os fogos são utilizados nas diversas festas dos orixás, que são as divindades do candomblé. Reginaldo Prandi, professor de sociologia da USP e autor do livro "Os Candomblés de São Paulo", estima que existam na cidade 43 mil terreiros –3.000 de candomblé e 40 mil de umbanda.
Prandi diz que a pólvora é vendida em pequenos cartuchos e usada em alguns rituais de ebós, oferendas onde se misturam comidas, bebidas e charutos, entre outros elementos.
É usada também em trabalhos de "limpeza" e purificação de locais ou de pessoas. A pólvora é colocada em montinhos em torno da pessoa ou esticada num rastro.
"Ao se queimar a pólvora, é como se o fogo estivesse queimando os maus fluidos", diz Prandi. A quantidade de pólvora utilizada nesses rituais é muito pequena.
Segundo Prandi, a pólvora não faz parte dos cultos originários da África. Foi incorporada ao candomblé e à umbanda pelas tradições populares brasileiras.
Os fogos, por suas vez, são herança ibérica e colonial que mais tarde se incorporou às festas religiosas.
O uso de maior ou menor quantidade de fogos nas festas depende do poder econômico de um terreiro e de seus frequentadores. Mãe Sylvia, do terreiro Axé-Ilê-Obá, do Jabaquara (zona sul), diz que comemora todas as "descidas" de orixás com baterias de foguetes, rojões e até fogos de artifício.

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