São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Segurança do 'Voodoo Lounge" tem brechas em pelo menos dois pontos

ARMANDO ANTENORE
DA REPORTAGEM LOCAL

Segurança do 'Voodoo Lounge' tem brechas em pelo menos dois pontos
A segurança que zela por concertos como o dos Stones não é tão impenetrável quanto parece. Com jeitinho, dá para driblá-la.
No estádio do Pacaembu, havia pelo menos dois lugares de acesso proibidíssimo à massa de mortais –principalmente se o mortal fosse jornalista. A reportagem da Folha esteve em ambos.
Um ficava atrás do palco. Era o corredor por onde passavam os artistas antes de entrar em cena.
O outro erguia-se no meio do gramado. Era a "torre de luz", o coração do espetáculo, de onde os técnicos norte-americanos controlavam a parafernália eletrônica do "Voodoo Lounge".
As duas áreas tinham por anjos da guarda dezenas de brutamontes. Teoricamente, só poderia frequentá-las quem carregasse um salvo-conduto, uma credencial com nome, função e fotografia.
Aí estava a brecha para o jeitinho: a credencial dos repórteres se parecia muito com a que permitia perambular pelos locais proibidos.
Bastava colocar a da imprensa no pescoço, invertê-la, respirar fundo e seguir em frente.
Sexta-feira à noite, a Folha conseguiu permanecer durante 40 minutos no corredor que saía dos camarins. Foi ali que, a caminho do palco, os quatro Stones fizeram uma fila indiana.
Mick Jagger vinha por último. Parecia excitado. Movia os braços e corria sem sair do lugar. À sua frente, nervoso, Keith Richards gargalhava.
Em volta dos quatro, apenas músicos, seguranças e assistentes diretos. Os técnicos de luz e som tinham que manter uns dez metros de distância.
Sem entender muito bem o que acontecia, a equipe técnica os desplugou. Quinze minutos depois, apareceu outro americano. Aos berros, perguntou: "Quem mandou desligar tudo?" Alguém respondeu que foram as mulheres.
O homem ficou ainda mais furioso e disparou: "Eu sou o cara que pluga essa merda de show, entendeu?". Entenderam. Rapidamente, religaram-se os fios.
No sábado à noite, a Folha burlou de novo a segurança. Ficou quase uma hora em cima da "torre de luz" –o lugar que Rita Lee, Roberto de Carvalho e outros brasileiros da produção escolheram para ver a segunda apresentação dos Stones.
O ambiente era "cool": tapetes persas pelo chão, cheiro de maconha no ar. Calçando chinelos de quarto, os técnicos operavam os computadores em silêncio.
Às tantas, um segurança farejou a reportagem –exatamente como ocorrera na noite anterior, atrás do palco. Falando inglês, sem gritos ou violência, apontou a saída. Não adiantou lhe contar uma história triste. Os americanos, ele explicou, têm muito pouco coração.

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