São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Equatoriano admite superioridade do Peru

FERNANDO CANZIAN
DO ENVIADO ESPECIAL AO EQUADOR

O Alto Comando Militar Equatoriano garante que vai resistir às ofensivas peruanas e lutar por cada centímetro de seu território.
Em entrevista à Folha ontem pela manhã em Quito, capital do Equador, o ministro da Defesa do país, general José Gallardo, afirmou que seu país fará uma guerra de guerrilha contra o Peru.
"Nossa inferioridade militar será compensada com a ajuda do povo, que está treinado para isso".
Gallardo reconhece a enorme superioridade peruana, mas afirma que o seu país está resoluto a "lutar até o fim".
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Folha - Qual o balanço das operações até este momento?
Gallardo - Temos até agora três mortos, seis feridos e sete desaparecidos. Não tenho informações sobre as baixas do lado peruano. Até o momento, só eles atacaram. Nós nos defendemos. Sabemos também que abatemos dois helicópteros inimigos e danificamos gravemente outros dois.
Folha - Qual a posição do governo do Equador em relação às ambições e ataques peruanos?
Gallardo - Estamos resolutos em defender este pedaço do território de qualquer maneira e até o fim.
Achamos que o Peru não tem direito a esta invasão territorial. O Peru alega que o seu território se estende até a cordilheira do Condor, mas, em nenhum protocolo internacional, nem mesmo no acordo do Rio de Jeniro, jamais a Cordilheira foi sequer citada.
Folha - O Equador tem condições de enfrentar de forma maciça o Peru?
Gallardo - Reconhecemos que existe um grande superioridade militar peruana. Mas como todo nacionalista de qualquer país, com uma história como a nossa, somos obrigados a defender cada centímetro de nosso território.
Se nossos vizinhos vêm contra a gente, somos obrigados a lutar contra eles. Todo o povo equatoriano pensa o mesmo. O fim dos conflitos depende apenas do Peru.
Folha - Que medidas estão sendo tomadas para o caso de uma guerra generalizada?
Gallardo - Dentro das limitações de nossa economia, estamos tomando todas as medidas necessária para defender o país com determinação, como é o nosso dever. Até agora respondemos à altura.
A população local também corresponde muito bem. Como somos inferiores, tratamos de desenvolver nos últimos anos esquemas de treinamento, com ajuda maciça da população na fronteira, para enfrentar inimigos. São todos treinados para lutar na selva e ajudar da melhor maneira possível as forças militares. Todos sabem exatamente o que fazer numa situação de guerra.
Folha - Há evacuações de civis na região de conflito?
Gallardo - Em certos locais há evacuações de mulheres, velhos e crianças, que temem a repetição do que aconteceu na invasão peruana sobre o Equador em 1941, quando houve bombardeios sobre civis e cometidas atrocidades contra a população civil.
Folha - O país está melhor preparado que em 1941, quando perdeu quase a metade do território na guerra com o Peru?
Gallardo - Naquela época, o país estava em uma situação econômica muito difícil. Não tínhamos força para a guerra. Não havia equipamentos ou tanques.
Só havia uma artilharia sumária, especialmente na parte oriental do país, onde os peruanos concentraram suas forças. Em alguns momentos tivemos de combater na proporção de dez soldados peruanos para cada dois equatorianos.
O posto de fronteira, que agora está sendo atacado, Tenente Ortiz, por exemplo, tem este nome em homenagem a um jovem tenente que se sacrificou com todos os seus homens nos combates. Mas a situação agora é outra.
Folha - O sr. acha que é o caso de uma intervenção de fora, humanitária, a favor do Equador, já que o país tem uma força menor para este conflito?
Gallardo - Creio que em todos os casos onde há risco de perdas desnecessárias de vidas humanas existe a necessidade de uma intervenção dita humanitária.
Folha - O Equador chegou a pedir ajuda militar a países vizinhos?
Gallardo - O governo do Equador pediu a intervenção da OEA (Organização dos Estados Americanos), do Conselho de Segurança da ONU, mas o governo do Peru não está aceitando.
Estamos recebendo apoio de todos os países latinos através de cartas e telefonemas. Mas ajuda até o momento é apenas diplomática.
Folha - O sr. poderia fazer uma retrospectiva dos últimos dias.
Gallardo - No dia 9 de janeiro, quatro soldados peruanos armados estavam em território controlado pelas tropas do Equador. Eles foram rendidos e entregues diretamnte ao comando peruano.
Dois dias depois, entre 10 e 12 soldados peruanos voltaram a ser vistos em nossa área. Ao aviso de alto eles respoderam com fogo.
No sábado e domingos anteriores (dias 21 e 22 de janeiro), helicópteros peruanos começaram a sobrevoar nossa região. Temos informações de que estavam colocando pessoal no chão para construir um heliporto em território equatoriano.
No último fim-de-semana, houve o ataque maciço das forças peruanas. Ao contrário do que foi informado, não recuamos um centímetro em nossas posições.

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