São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995 |
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Equilíbrio, no mínimo Até algumas semanas atrás discutia-se a necessidade e a viabilidade de correções na cotação do real frente ao dólar. Como se já não bastassem os motivos internos para temer uma desvalorização do real, que teria impacto inflacionário, a crise cambial mexicana praticamente obrigou a Argentina e o Brasil a um compromisso ainda maior com a estabilidade de suas moedas, dados os riscos de um efeito dominó. Mas agora, também diante do terremoto mexicano, é no mínimo prudente evitar déficits no comércio exterior. Até dezembro imaginava-se que o déficit comercial seria financiado por abundantes entradas de capitais. Essa aposta hoje é inconsequente. O novo desafio é produzir superávit sem desvalorizar abruptamente o câmbio. Há dois caminhos possíveis. O primeiro, mais consistente e duradouro, é reduzir o chamado "custo Brasil". Isso leva tempo e exige tanto reformas constitucionais quanto esforços de modernização produtiva. O segundo, emergencial, é estimular diretamente exportações ou agir topicamente sobre quotas e alíquotas de importação. Pode-se assim perseguir num prazo mais curto um saldo positivo no comércio exterior. É o caso das importações de automóveis, que se espera restringir a partir de uma terceira rodada da câmara setorial da indústria automobilística a partir do próximo dia 6. O perigo dessa estratégia é transformar-se o emergencial em irreversível, abandonando ou relativizando o objetivo mais duradouro, a redução do custo Brasil, se outros expedientes garantirem performance positiva no comércio exterior. Já se viu no passado o resultado de tal atitude: a política econômica traduz-se em casuísmo e mais burocracia onde supostamente haveria política industrial e seletividade. É preciso estar atento aos perigos do momento atual. É sem dúvida urgente evitar que o saldo comercial seja deficitário. Mas sem que isso leve ao endosso de um cheque em branco, sancionando uma política econômica que reverta a liberalização e seja um salto no escuro. Próximo Texto: Do roto para o esfarrapado Índice |
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