São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995 |
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Do roto para o esfarrapado
DO ROTO PARA O ESFARRAPADO O país foi surpreendido nos últimos dias pela notícia de que o governo considera aceitar um pedido dos EUA para que o Brasil contribua financeiramente (junto com Argentina, Chile e Colômbia) com um fundo de auxílio ao México. Apesar das críticas que surgiram contra essa possibilidade, o assunto é complexo e exige avaliação cuidadosa.A reação mais instantânea ao pedido é decerto negativa. Afinal, como pode um país pobre como o Brasil, que precisa de reservas agora mais que nunca, desfazer-se de centenas de milhões de dólares. Mais ainda, esse dinheiro não se destina a ajudar diretamente a população mexicana, mas sim os investidores norte-americanos. Não haveria sentido em retirar dinheiro escasso do Brasil para proteger capitalistas de um risco que é inerente ao sistema de mercado. Tal abordagem peca por uma superficialidade perigosa. O mundo hoje é interligado e eventos em várias partes do planeta afetam o Brasil, queiram ou não os saudosistas do isolacionismo autárquico. Assim, fica claro que é do maior interesse do país evitar que a crise mexicana se agrave e propague. Até aqui prevê-se uma redução drástica ou até o esgotamento do fluxo de recursos externos por algum tempo. Já uma moratória no México pode deslanchar uma fuga irrefreada de capitais. É verdade que o dinheiro sul-americano não será, em si, decisivo para o México. Sua importância é mais política do que econômica. A ajuda pode, por exemplo, dar mais munição para a Casa Branca conseguir do Congresso norte-americano o difícil aval para o seu fundo de auxílio –este sim crucial. Deve-se lembrar, por fim, que a situação das contas externas afeta todos os brasileiros. No México, por exemplo, a crise cambial pôs a perder anos de sacrifícios contra a inflação e lançou nuvens sobre o crescimento e o emprego no país. Se a ajuda financeira ao México puder contribuir, ainda que pouco, para evitar que esse cenário se alastre para o Brasil, ela deve ser concedida. Por mais impopular que possa parecer. Texto Anterior: Equilíbrio, no mínimo Próximo Texto: Pobres em guerra Índice |
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