São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Pobres em guerra

São deploráveis sob todos os sentidos os combates e as mortes que estão ocorrendo na fronteira entre Peru e Equador. Um conflito armado entre dois países da América do Sul era notícia que não se ouvia há muito e confrontos como os da ex-Iugoslávia ou da Tchetchênia pareciam pesadelos distantes.
O recurso às armas como forma de solucionar controvérsias, territoriais ou de outra ordem, significa um recuo ao barbarismo que a comunidade internacional vem tentando, lamentavelmente ainda com sucesso apenas relativo, extirpar das relações internacionais.
Como é tradicional em confrontos armados, é a irracionalidade que chama mais a atenção. Cada um dos países culpa o outro pelo início das hostilidade e busca na história e na geografia a justificativa para suas pretensões territoriais –como se isso pudesse justificar a perda de vidas humanas.
De todo modo, uma vez que naufragou a razão e foi iniciado o conflito, importa menos tentar identificar o agressor e mais buscar interromper imediatamente as hostilidades. O dever básico dos dois governos envolvidos afinal é –ou deveria ser– para com o bem-estar da sua população.
Bastam os mortos e feridos (não importa quantos) e a violência da evacuação de vilas inteiras para escancarar o absurdo da guerra, cobrar um cessar-fogo imediato e a abertura de negociações pela civilizada via da diplomacia. Mas há ainda a considerar o fato de que ambos são países pobres, com carências gigantescas em todas as áreas que se possam imaginar. O gasto de recursos já escassos com uma operação militar torna a aberração do conflito ainda mais evidente.
Há gestões internacionais em andamento, inclusive com participação do Brasil, para buscar a saída negociada. Espera-se que consigam. Tivessem um mínimo de bom senso, porém, e seriam os próprios combatentes a pôr fim à luta insensata e trazer a discórdia para o terreno civilizado da palavra, de onde nunca deveria ter saído.

Texto Anterior: Do roto para o esfarrapado
Próximo Texto: A vida não vale nada
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.