São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Fernando Henrique está parado?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Ao completar um mês de novo governo, dissemina-se a sensação na opinião pública de que FHC está lento. O problema, porém, deve ser dividido: parte é do governo. Parte, porém, da opinião pública, viciada pelo clima de thriller policial.
Advertência: se FHC cair no jogo dos anúncios pirotécnicos vai atirar o rojão no próprio pé. O campeão de pirotecnia acabou sozinho e desacreditado na Casa da Dinda. O governo é uma obra de quatro anos. Não significa que já não se detectem arapucas potenciais.
FHC adiantou a sucessão, ao colocar no Planejamento um candidato à Presidência. A suspeita generalizada no Congresso e entre demais ministros é de que José Serra monta um trampolim para sua candidatura, o que gera fontes de resistências.
Criou-se um Gabinete Civil destinado a coordenar os ministros. A julgar pelas conversas informais dos ministros, Clóvis Carvalho vai suar para ver suas ordens obedecidas. Até porque no tititi de bastidores ele é encarado como uma peça do esquema Serra.
FHC ainda não deixou claro como vai convencer o Congresso a aprovar a decisiva reforma constitucional. Se repetir o treino dos primeiros 30 dias, vai se transformar em hambúrguer. Há fundadas dúvidas de que ele tenha ímpeto para, como se diz na gíria do futebol, entrar em bola dividida.
Arapucas potenciais são também os sinais de deslumbramento presidencial. Por exemplo: falar em inglês e francês com os repórteres, recusando-se a uma pergunta em português. Imagino só o que aconteceria com Clinton ou Mitterrand caso se comportassem assim.
Ele fica repetindo que será recebido com deferência especial por Bill Clinton, vai dormir na Casa Branca, vai ser homenageado com um jantar. Chegou a dizer que, no hemisfério, depois dos EUA, só o Brasil. Sinceramente: com tantos anos que viveu fora do país, não precisaria se submeter ao papel de cucaracha colonizado.
Pior de tudo, porém, é que FHC, até agora, não deu um sinal claro de que a opção pela justiça social vai sair, de fato, do papel. Mas ainda tem tempo e bons auxiliares.

Texto Anterior: A vida não vale nada
Próximo Texto: Ópera, rock e balas perdidas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.