São Paulo, terça-feira, 31 de janeiro de 1995
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Ópera, rock e balas perdidas

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – "Diz pra ele que aqui é o Brasil." A mulher em traje baby-look –curtinho e assanhadinho como os da Vera Fischer– gritou para ser ouvida.
Queria mesmo que ele, Luciano Pavarotti, o maior tenor do mundo, soubesse que no Brasil é assim mesmo: as pessoas são capazes de pagar de R$ 200 a R$ 500 por cabeça para assistir a um recital de música clássica, mas não abrem mão do "direito" de se comportar como se estivessem numa churrascaria.
Pavarotti tinha interpretado apenas as canções iniciais do repertório que desfiou semana passada no Metropolitan carioca quando veio o intervalo, interminável.
O artista pede aos presentes que não fumem, avisou um locutor. Avisou uma, duas vezes e nada. A galera fumava –e bebia e andava pra lá e pra cá e conversava etc.– e o tenor não voltava.
Não teve alternativa: voltou depois de meia hora e cantou tudo o que sabe. Independente da imprópria performance de sua platéia.

Por falar em impropriedade, lê-se que Mick Jagger resolveu comer vatapá. No Embu! Espera-se que o efeito passe até quinta-feira, quando os Stones estréiam por aqui.

Caminha para o fim a participação das Forças Armadas nas operações de combate à criminalidade no Rio. Ações e coordenações contra o tráfico passam de fato a quem de direito, a polícia estadual.
Saem bem da operação os militares: o temor de que eles iriam se atolar no lamaçal social das favelas não se confirmou. Meteram-se em uma ou outra confusão –acusações de abusos e torturas, infrações violentas de trânsito e quetais.
Mas começam a retornar aos quartéis com a sensação do dever cumprido.
Afinal, a galera branca e bem de vida da zona sul acha que o Rio está ma-ra-vi-lho-so. Sem arrastão, sem assaltos a turistas etc.
Bem, mas crescem os sequestros, os assaltos a banco, sobrevivem as balas "perdidas"...
Olha só, paulista adora ver defeito nas coisas...

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