São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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Oriente Médio é foco de tensão

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

O rei Hussein, da Jordânia, afirmou recentemente que problemas relacionados ao suprimento de água seriam a única justificativa para a eclosão de uma nova guerra entre seu país e Israel.
Em 1967, um dos motivos da guerra entre Israel e seus vizinhos (a Guerra dos Seis Dias) foi justamente a ameaça, por parte dos árabes, de desviar o fluxo do rio Jordão, cuja nascente fica nas montanhas ao sul do Líbano, atualmente ocupadas por Israel.
O rio Jordão e seus afluentes fornecem 60% da água consumida em Israel e 75% da água necessária à Jordânia. Também a Síria depende em grande parte do rio.
Os países do Oriente Médio, com altas taxas de crescimento populacional, dependem basicamente de três grandes sistemas fluviais e de depósitos de água subterrâneos e não-renováveis.
O acordo de paz assinado na última quinta-feira, em Washington (EUA), acelerou o processo de paz entre árabes e judeus, mas não contemplou definitivamente a delicada questão hídrica na região.
O documento, assinado pelo primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e por Iasser Arafat, presidente da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), amplia a autonomia árabe nas cidades da Cisjordânia.
Durante os diversos encontros entre os dois líderes nos últimos 18 meses, um dos mais áridos temas de discussão foi exatamente como dividir a pouca água disponível na região entre os palestinos e os israelenses.
Outra área de conflito em potencial no Oriente Médio é a bacia dos rios Tigre e Eufrates, na Ásia.
Os dois rios nascem na Turquia e são as principais fontes de água da Síria e do Iraque.
Em 1990, a Turquia interrompeu o fluxo do Eufrates por três semanas, oficialmente para encher a represa de Ataturk, na região da Anatólia, onde uma série de hidrelétricas e projetos de irrigação estão sendo feitos.
O motivo real, no entanto, parece ter sido mostrar à Síria as consequências de um possível apoio do governo daquele país aos rebeldes curdos da Turquia.
Por fim, o sistema fluvial do rio Nilo é constante motivo de preocupação entre os dez países banhados por suas águas.
Nações situadas Nilo acima, como Etiópia, Sudão, Uganda, Ruanda e Zaire, entre outras, pretendem utilizar maior volume de água do rio para irrigação e produção de energia.
O Egito, no entanto, desde os tempos dos faraós, depende em quase 100% dos recursos hídricos do Nilo.
Somente o Egito e o Sudão conseguiram fazer um acordo sobre o uso de suas águas.
Países como Egito, Israel e Iraque, situados rio abaixo, são militarmente mais poderosos que seus vizinhos rio acima, que controlam o fluxo de água.
Esse controle pode ser uma forma de responder à força das armas dos vizinhos.
``Os engenheiros dizem ser possível solucionar o problema do abastecimento de água no Oriente Médio", disse, em entrevista à Folha, o jornalista John Bulloch.
Segundo ele, no entanto, as soluções dependem de vastos recursos e, principalmente, da vontade dos políticos, que precisam estabelecer íntima colaboração entre os diversos Estados.
Enquanto isso não acontecer, a paz no Oriente Médio estará sempre ameaçada pela explosão de uma bomba d'água, que será uma das principais ameaças durante o século 21.
(OD)

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