São Paulo, segunda-feira, 2 de outubro de 1995
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Consumo per capita cresce, mas futuro ainda preocupa

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

O consumo per capita cresceu 27,3% no país ao longo dos últimos 12 anos e alcançou o correspondente a US$ 1.874,48 em 95, segundo a Target Pesquisas.
Apesar disso, o bebê argentino consome, em média, sete vezes mais fraldas que o brasileiro e a chilena compra quase três vezes mais absorventes higiênicos.
As vendas de fraldas declinaram desde o início da década até 94, quando cresceram 49%, graças às marcas estrangeiras que em 92 influenciaram a queda de preços.
Em 94, a venda de absorventes higiênicos estava 17% abaixo do nível de 89, embora o faturamento em dólar tenha crescido 27%.
A antiga prática de reajustar preços para compensar queda de vendas perpetuou patamares de consumo per capita inferiores aos de mercados de menor escala que o brasileiro, como mostram os índices da Nielsen.
``O consumo per capita de determinado bem está diretamente relacionado ao preço e à renda disponível", afirma Francis Liu, da Booz Allen, com base em uma pesquisa que investigou essas variáveis em 50 países.
Um dos desajustes detectados no caso brasileiro foi justamente o do setor de fraldas.
O mesmo estudo sugere que o consumo anual per capita de chocolate, por exemplo, poderia superar os atuais 800 gramas se o preço fosse mais adequado à renda.
``O Brasil ainda tem a pior distribuição de renda entre os países em desenvolvimento", diz Luiz Amarante, gerente de marketing da Santista Alimentos.
Para o economista Paulo Rabello de Castro, da FGV, o Real quadruplicou a massa monetária e contribuiu para um salto do consumo. ``Mas essa onda monetária já bateu na praia." Mudanças estruturais decorrerão, segundo ele, da criação de instrumentos de poupança de longo prazo.
Alguns setores, como o de cerveja, apostam na continuidade da festa promovida pelo Real. Neste ano, o brasileiro vai beber 40 litros da bebida contra 37 litros em 94. ``O país tem potencial para elevar o consumo per capita até 60 litros", prevê Antonio Carlos Ribeiro, vice-presidente da Kaiser.
``Houve incremento fortíssimo das classes de baixa renda que estavam alijadas do mercado de proteína animal", diz Antonio Zambelli, da Perdigão.
Tanto é assim que já começam a faltar produtos com pequeno valor agregado, como cortes de frango vendidos em bandejas.
``Isso significa que, um ano depois do plano, já deram o segundo passo do trajeto do consumidor. Mantida a estabilidade, dentro de três a quatro anos suas exigências serão similares às de países desenvolvidos."

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