São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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Senado deve anular contrato do Sivam

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Senado irá fazer nova análise do projeto Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). Isso irá provocar o cancelamento do contrato assinado em maio deste ano pelo governo e pela empresa norte-americana Raytheon.
A Folha apurou que o governo já negocia com a Raytheon um novo contrato.
O atraso no projeto, no entanto, trará um prejuízo de US$ 6,56 milhões ao país até dezembro. Essa quantia equivale ao custo de 938 casas populares.
A taxa deve ser paga pelo Banco do Brasil pelo fato de o governo não usar as parcelas liberadas do financiamento externo.
Orçado em US$ 1,4 bilhão, o projeto Sivam prevê o controle dos espaços aéreo e terrestre da Amazônia por intermédio de satélites e radares.
O cancelamento do contrato -ao qual a Folha teve acesso- irá ocorrer devido ao não-cumprimento da cláusula 36, que diz que o Senado teria de aprovar até o dia 27 de novembro as resoluções que autorizam o governo a tomar o empréstimo para pagar o Sivam.
Esse prazo não será cumprido, já que a nova análise do projeto no Senado deverá terminar somente no próximo ano.
O subsecretário-executivo da SAE (Secretaria de Assuntos Estratégicos), brigadeiro Archimedes de Castro Faria Filho, reconhece que o contrato poderá ser anulado.
O Senado havia autorizado o governo, no final do ano passado, a tomar o empréstimo para pagar o Sivam. A autorização foi cancelada, no entanto, devido a mudanças no projeto original.
As esperanças dos governos brasileiro e norte-americano de que o Senado iria aprovar o projeto em tempo hábil foram frustradas pelo presidente da comissão de Assuntos Econômicos, senador Gilberto Miranda (PMDB-AM), no início deste mês.
Miranda convocou, de uma só vez, 14 pessoas -entre elas, 11 ministros- para prestar depoimentos sobre o projeto.
Esses depoimentos deverão durar até o dia 20 de dezembro. Outras convocações pedidas por Miranda -autoridades da área de aviação dos EUA, Rússia e Austrália- deverão empurrar a análise do projeto para o próximo ano.
Por intermédio de outro pedido do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), mais três pessoas serão chamadas, inclusive o ministro da Aeronáutica, Mauro Gandra.
Gilberto Miranda disse à Folha que as novas resoluções do Senado deverão ser votadas em um prazo de seis a nove meses.
``Depois de todas as irregularidades que aconteceram, vamos olhar o Sivam com uma lupa", afirmou o senador.
A Folha apurou que outro fato preocupa o governo: a falta de empenho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), em apressar o projeto.
Na semana passada, questionado sobre os encaminhamentos que o Senado estava dando ao projeto, Sarney remeteu toda a responsabilidade sobre o processo ao senador Gilberto Miranda.
``O Senado irá analisar o Sivam, mas poderá aprovar ou não as resoluções do governo (sobre o empréstimo para pagar o projeto)", afirmou Sarney.

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