São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Guerras santas

NELSON DE SÁ
EM NOVA YORK

Amanhã o papa vai beijar o chão de Nova Jersey diante de uma televisão já carregada de padres comentaristas.
Também desde já, ou desde domingo, lá estava a Igreja Universal, na TV Telemundo, com sua ``grande concentração de fé em Nova Jersey".
É a luta dos pentecostais por toda parte. Uma luta em que não faltam cenas conhecidas, como ``era cega! Ela era cega! O milagre passou. Amém, para a glória do senhor!".
E mais, ``queremos convidar os católicos" de Nova Jersey. E mais, ``se você é paralítico, você está convidado".
Mas a influência da Igreja Universal é restrita, na área de Nova York. O que não é nada restrito é o ambiente próximo de guerra religiosa e racial que o papa vai encontrar.
Segundo a ABC e a CNN, ele teria dado declarações como ``os Estados Unidos são o maior inimigo do Islã" e ``não sou a primeira pessoa a ir para a cadeia por sua fé".
Enquanto os muçulmanos surgiam na televisão repetindo o líder, a polícia dizia que ``o veredicto veio na pior hora", com a visita do papa.
Policiais tomaram a cidade, por conta do terror.
O ``julgamento do século", no dizer da CNN, chega ao fim como uma alegoria da divisão da sociedade americana.
O problema começou quando o advogado de defesa, negro, surgiu com guarda-costas da Nação do Islã, grupo religioso de Louis Farrakhan, conhecido por seu anti-semitismo.
O advogado comparou um dos policiais do caso, branco e abertamente racista, a Hitler e ao ``demônio". Para a CNN, foi para sensibilizar o júri, na maioria ``afro-americano".
O.J. Simpson é negro, sua ex-mulher era branca.
O pai da outra vítima, que é judeu, surgiu então na televisão para atacar o advogado, com emoção, dizendo que ele não podia falar em racismo, por sua ligação com Farrakhan.
Mais adiante, um dos dois promotores, negro, encerrou as acusações com citações de Martin Luther King, o pastor batista, a religião majoritária dos negros americanos.
Fora, protestos acabaram em discussão e duas pessoas foram detidas, ``uma branca, outra negra", segundo a ABC.
A polêmica foi tanta que o advogado de defesa surgiu na CNN, num novo programa, só sobre julgamentos, dizendo ser ``velho amigo de Israel".
Por fim, Pat Robertson, o pastor que dominou o Partido Republicano e é o modelo de Edir Macedo, parece ter uma nova missão na Terra.
Em sua emissora, a Christian Broadcasting Network, ele faz agora a ``evangelização" dos judeus, sob o slogan ``judeus por Jesus, por que não?".
São as guerras que o papa vai encontrar em Nova York.

Texto Anterior: FHC se reúne com PT pela primeira vez
Próximo Texto: Senado deve anular contrato do Sivam
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.