São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995
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Exército chama clero de ``força adversa"

Documento também cita ONGs

MYRIAM VIOLETA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

Documento elaborado pelo Exército e distribuído entre as Brigadas do CMO (Comando Militar do Oeste) cita como ``forças adversas" na região nordeste de Mato Grosso as ``ONGs (organizações não-governamentais) que atuem em atividade nociva aos interesses do Estado e prejudiquem a soberania nacional" e o ``clero progressista comprometido com movimentos extremistas e revolucionários".
O relatório, distribuído no último dia 10 de agosto, é um Documento de Exercício da Operação Araguaia, ao qual a Agência Folha teve acesso.
A Operação Araguaia foi realizada pela 13ª Brigada de Infantaria Motorizada com a participação de órgãos governamentais, entre 21 e 28 de setembro em 12 cidades da região nordeste do Mato Grosso.
Segundo o tenente-coronel Higino Veiga Macedo, relações-públicas do CMO, a situação descrita no relatório é apenas uma ``hipótese" do que os 240 homens, entre oficiais e recrutas, em exercício na Operação Araguaia poderiam encontrar nas cidades onde os destacamentos estiveram.
Segundo ele, o relatório foi feito antes do início da operação. ``O trabalho foi basicamente a busca de informações sobre o que poderia ocorrer na regiões. Caso algumas das hipóteses fossem comprovadas, o Exército acionaria o órgão competente. Por exemplo, se fosse encontrado alguém com porte de arma ilegal seria caso para acionar a Polícia Federal."
Segundo informações à imprensa de Mato Grosso do tenente-coronel Mário Artur Mack e do tenente-coronel Etevaldo Caçadini, que comandaram a operação, há seis meses oficiais do Exército já estavam fazendo reconhecimento das cidades.
O documento também diz que ``os comandantes de destacamento devem desenvolver uma rede de inteligência com a população com a finalidade de obter o maior número de dados em curto espaço de tempo e restringir os contatos com a imprensa".
Macedo disse que esses objetivos também são ``hipotéticos" e que ao Exército ``não interessa ter nos seus arquivos dados de lideranças sem-terra nem de ONGs".
Ele disse que os únicos dados que foram atualizados na operação foram abertura de estradas, construção de hospitais e mudanças na geografia.
Entretanto, ele afirmou que nenhuma das hipóteses descritas no documento se confirmou. ``O Araguaia está tranquilo."
O secretário de Justiça do Mato Grosso, Hermes Abreu, disse que amanhã deverá sair o relatório sobre o trabalho que foi feito pelas entidades governamentais.

Os órgãos que participaram da Operação Araguaia são: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal, Capitania dos Portos, Aeronáutica (Serviço de Proteção ao Vôo), Polícia Militar e Civil de Mato Grosso, Receita Estadual, Ibama, Instituto de Identificação, Departamento Nacional de Telecomunicações (Dentel), Sistema Nacional de Emprego (Sine), Tribunal Regional Eleitoral, Delegacia Regional do Trabalho e médicos e dentistas da Universidade Federal de Mato Grosso e de Cuiabá.

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