São Paulo, terça-feira, 3 de outubro de 1995 |
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Incineração
EDUARDO JORGE; ADRIANO DIOGO EDUARDO JORGEADRIANO DIOGO No momento em que se buscam alternativas para a redução dos níveis de poluição do ar nas grandes cidades, surgem em vários locais propostas de instalação de incineradores de resíduos. Tal prática, além de pôr em risco a saúde pública, esconde interesses de empresas que, vendo seu mercado cada vez mais difícil nos países centrais, buscam países menos desenvolvidos para atuar. A queima do lixo gera uma série de riscos à saúde, devido à liberação de gases tóxicos (dioxinas, monóxido de carbono etc.). As dioxinas são os produtos mais perigosos: são bioacumulativos e, em pequenas quantidades, entram na cadeia alimentar do homem, trazendo uma série de danos (câncer, alterações no sistema neurológico e imunológico, disfunções no sistema reprodutor, com feminilização de homens e redução do tamanho de órgãos genitais). Considerando que os incineradores de resíduos domésticos, industriais e hospitalares, mesmo providos de filtros caríssimos, são as principais fontes de emissão de dioxinas nos países centrais e nos EUA, a Agência de Proteção Ambiental Americana (EAP) está concluindo uma revisão geral de sua política de controle em relação às dioxinas. Tida como solução para a deposição dos resíduos, principalmente em grandes cidades com pequeno espaço para aterrar o lixo, a incineração foi incentivada pelas autoridades sanitárias dos países desenvolvidos nas décadas de 60 (Europa) e 70 (EUA). Atualmente se observa um movimento contrário, com inúmeros fechamentos de incineradores, proibição de instalação de novos, moratórias etc. Em 1985 a moratória na instalação de incineradores foi decretada pelo governo sueco. Em 1990, foi o caso do Canadá -moratória de cinco anos. Em 1992, foi proibida a instalação de incineradores em Rhode Island (EUA). Nos últimos anos foi proibida a instalação de 280 incineradores nos EUA, dez na Austrália, oito na Inglaterra, 31 na Espanha, 21 na Polônia. Como é de se esperar, esse poderoso lobby instalado na Europa e EUA busca agora novos mercados para suas usinas de perigo, pressionando governos e legisladores. O lixo, no Brasil, segundo levantamentos técnicos, é assim distribuído: 60% são formados de matéria orgânica; 14% são papel; 11% são material plástico; 4% são constituídos de metais, 2% são vidro e somente 9% a 10% são constituídos de material não-reciclável. Isso significa que cerca de 90% do dito "lixo pode ter destinação que resulte na fabricação de outros produtos. A parcela orgânica, se devidamente separada, pode ser utilizada para produção de adubos; os metais, vidros, plásticos e papel são matérias-primas para a indústria. EDUARDO JORGE, 45, médico sanitarista, é deputado federal pelo PT de São Paulo. ADRIANO DIOGO, 46, geólogo, é vereador pelo PT em São Paulo. Texto Anterior: Plebiscitos criam mais 30 novas cidades no PI Próximo Texto: Caminhão capota e 7 morrem em Alagoas Índice |
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