São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995 |
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Rodney King acabou livrando O.J. Simpson
BARBARA GANCIA
As provas contra Simpson eram avassaladoras. Enumero apenas duas, cruciais: exames de DNA revelaram amostras de seu sangue no local do crime e o motorista da limusine, contratado para levar o acusado ao aeroporto no horário estimado dos assassinatos, testemunhou ter visto um homem negro encapuzado entrar correndo na casa de Simpson. Mesmo assim, Simpson se safou. E sua liberdade não foi só comprada pelos milhões de dólares desembolsados em sua defesa. A guerra velada travada por negros e brancos na América -cujo foco mais explosivo é Los Angeles, local onde os crimes foram cometidos-, acabou sendo o principal motivo da absolvição. Trata-se da vingança da comunidade negra de L.A. (a maioria dos jurados no caso Simpson era composta por negros) contra o LAPD, o departamento de polícia de Los Angeles, cuja fama de racista ultrapassa as fronteiras da Califórnia. Dizia-se, desde o dia em que Simpson foi acusado pelos crimes, que, simbolicamente, o negro Rodney King -pivô de tumultos na cidade quando da absolvição dos policiais que o espancaram enquanto uma câmera filmava tudo- seria o 13º jurado no caso. Não há dúvida de que O.J. matou a mulher. Tive a derradeira confirmação no último dia do julgamento, quando a mãe do réu e a mãe da vítima, Nicole Brown, entraram de mãos dadas no tribunal. O gesto é evidência de que, apesar de a família da vítima ter declarado considerar Simpson culpado, todos os familiares do casal estão solidários na tragédia. Por um simples motivo: durante anos, os Simpsons e os Browns assistiram passivamente às brigas do casal. E calaram diante dos espancamentos que O.J. aplicava regularmente na mulher. Sentem-se, imagino, coniventes com o crime. Antes de ser morta, Nicole profetizou que O.J. acabaria por matá-la e seria absolvido. A Justiça americana provou que ela estava certa. Texto Anterior: O PENSAMENTO DE FRANCIS DAVIS Próximo Texto: Porcaria; Volta; De comer Índice |
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