São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Bandidos da telefonia atacam os celulares

MARINA MORAES
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE NOVA YORK

Usar o telefone celular em Nova York pode ser um teste para a memória. Os assinantes da Nynex, uma das companhias que oferecem o serviço na cidade, precisam lembrar do número a ser chamado e de mais um código de acesso, 14 dígitos ao todo.
Criar o código foi o jeito que a empresa encontrou para proteger os usuários. Receber a conta no final do mês andou reservando uma surpresa desagradável para muita gente.
``Tenho certeza que nunca liguei para Caracas", disse-me um amigo, desanimado com a cobrança de ligações para a Venezuela.
Os bandidos da telefonia andam estragando o humor de muito nova-iorquino.
Chegaram a inventar uma antena móvel para capturar e decifrar o sinal eletrônico emitido por um celular. De posse disso, usando um segundo aparelho, faziam a festa na conta alheia. O novo código pessoal da Nynex dificulta a manobra.
As fraudes na telefonia não são novidades nos EUA. A estimativa é de que custem US$ 4 bilhões por ano às companhias telefônicas em chamadas de origem duvidosa.
Nos bairros de imigrantes das grandes cidades, fila em telefone público pode ser sinal de que a máfia dos pulsos está em ação.
Uma faxineira que trabalhou em casa contava uma história curiosa. Moradora de Queens, em Nova York, todo domingo ela marchava para um orelhão específico de onde disparava ligações praticamente de graça para o Brasil.
Nesse caso, subornando telefonistas de hotéis ou funcionários das companhias telefônicas, a máfia conseguia os códigos de acesso a linhas internacionais.
Pagando uma taxa de US$ 10 a US$ 15 pela senha, a faxineira colocava em dia todas as fofocas em chamadas que chegavam a durar uma hora.
Tente usar um orelhão para chamar o Brasil nas ruas de Manhattan. Se não é a cobrar, via telefonista, a resposta gravada normalmente diz que aquele telefone só faz ligações locais. O bloqueio é outra tentativa de enfrentar os punguistas eletrônicos.
As oportunidades para dar ou levar o golpe não param por aí.
Executivo que se preze carrega um cartão de crédito que dispensa o pagamento das chamadas com as moedinhas de 25 centavos.
É aí que entram os chamados surfistas de ombro. Gente que fica pelas redondezas, como quem não quer nada, tentando copiar os números de acesso.
Usam todo tipo de artimanha, inclusive câmeras de vídeo amadoras, para registrar à distância o momento da ligação.
Escaldadas com esse tipo de furto, as companhias telefônicas já tomaram medidas para proteger o assinante.
Se você nunca ligou para Nairobi, no Quênia, e, de repente, chamadas para essa cidade começam a aparecer em sua conta, os computadores das empresas bloqueiam o uso do cartão.
Na maioria das vezes é batata. Alguém, em algum lugar, estava preparando uma surpresa para sua conta telefônica do mês que vem.
O pior é quando as chamadas são legítimas. Então, é preciso passar horas explicando à telefonista da AT&T que Guaxupé existe, fica no Brasil, e que tudo o que você quer é dar os parabéns pelo aniversário da vovó.

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