São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Jurados absolvem O. J. Simpson

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O ator e ex-jogador de futebol americano O. J. Simpson foi libertado ontem depois do anúncio do veredicto do júri que o considerou inocente.
Às 10h de Los Angeles (14h em Brasília), quase todas as atividades nos EUA foram interrompidas, da Casa Branca, sede do governo, a escolas e fábricas, para que as pessoas ouvissem a decisão.
O resultado foi recebido com explosões de alegria entre a comunidade negra e com contida indignação ou resignada indiferença pela branca.
O. J. Simpson (pronuncia-se "oudjêi"), 48, negro, era acusado dos homicídios de Nicole Brown, sua ex-mulher, e de Ronald Goldman, amigo dela, brancos.
Os crimes ocorreram na noite de 12 de junho de 1994. Não houve testemunhas visuais e a arma do crime nunca foi encontrada.
A promotoria, a quem cabe o ônus da prova pela legislação norte-americana, apresentou apenas provas circunstanciais.
Segundo a acusação, Simpson matou Nicole por ciúme, inconformado com a decisão dela de acabar com o casamento. Pelo menos três vezes no passado ele havia agredido a mulher fisicamente.
A oportunidade para o crime, para a promotoria, existiu nos quase 80 minutos daquela noite para os quais Simpson não tinha álibi.
Uma das luvas usadas pelo assassino encontrada no quintal da casa de Simpson, manchas de sangue encontradas no seu carro e em um par de meias, com DNA compatível com o dele e o das vítimas, e marcas de sapatos parecidos com os de sua preferência no local do crime eram outras provas.
A defesa, a quem cabe apenas levantar ``dúvidas razoáveis" para obter a absolvição, concentrou os argumentos na tese de que o réu foi vítima de conspiração racista da polícia de Los Angeles (Costa Oeste dos EUA), local do crime.
O detetive Mark Fuhrman, que diz ter achado a luva na casa de Simpson, foi fundamental para essa teoria. Ele negou em seu testemunho haver usado a palavra pejorativa ``nigger" (crioulo) nos últimos dez anos para se referir a negros. A defesa provou com fitas de áudio que ele mentiu.
O júri de nove negros, dois brancos e um hispânico parece ter aceitado a teoria da defesa. O apelo da defesa à raça teve melhores resultados do que o apelo ao gênero feito pela promotoria (dos 12 jurados, 10 eram mulheres).
Depois de 372 dias de julgamento, os jurados precisaram de apenas três horas e meia para chegar a um veredicto. A jurada Brenda Moran justificou a rapidez: ``Nós ficamos ali nove meses. Não queríamos ficar outros nove".

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