São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Absolvição derruba crença popular no júri

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Algumas consequências do caso Simpson são evidentes. Entre elas: o grau de confiança da sociedade na instituição do tribunal do júri vai cair.
O sistema jurídico norte-americano nunca foi visto com tanto cinismo e descrença pelo público dos Estados Unidos quanto agora.
Antes do caso Simpson, 72% dos norte-americanos diziam acreditar no tribunal do júri. Essa taxa de aprovação caiu para 51% em julho deste ano e ninguém duvida de que esse número vai ser ainda menor na próxima pesquisa.
Enquanto Simpson retornava para casa livre, apesar da esmagadora evidência apresentada contra ele, milhares de brancos e negros cumprem penas de cadeia, condenados em processos muito mais frágeis do que o movido contra o ex-jogador.
Sem os milhões de dólares que esse milionário réu mobilizou para armar a sua defesa, ele poderia a esta altura até estar no corredor da morte.
A última pesquisa de opinião pública do Instituto Gallup antes do veredicto mostrava 63% dos consultados expressando sua convicção de que Simpson era culpado. Mas entre negros, 72% o consideravam inocente.
Essa divisão radical de opiniões aponta para uma segunda provável consequência social do caso O. J. Simpson: as relações entre brancos e negros podem se tornar ainda mais tensas.
Simpson foi absolvido porque seu advogado Johnnie Cochran convenceu o júri de que o réu foi vítima de uma conspiração racista na polícia de Los Angeles. A decisão dos jurados, ontem, foi política e racial.
Muitos brancos, já irritados com os efeitos da política de ação afirmativa, que legaliza o racismo às avessas, vão ficar ainda mais indignados se acharem que a Justiça julga negros (pelo menos os ricos) com mais condescendência que brancos ou hispânicos.
Embora a defesa de Simpson tenha saído vitoriosa com sua tese de que seu caso era racial, na verdade ele nunca deixou de ser um caso sexual.
O que traz uma terceira possível consequência do caso: vítimas de violência doméstica podem se sentir abandonadas com o veredicto.
Nos EUA, como no Brasil, a Justiça é leniente com maridos que espancam ou mesmo matam suas mulheres. O caso Simpson apenas coloca holofotes sobre essa constatação indiscutível.
(CELS)

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