São Paulo, quarta-feira, 4 de outubro de 1995
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Risos; Sem-terra; Álcool; CUT; Cigarro; Elizabeth Bishop; Mulheres

Risos
``Como eleitor de Fernando Henrique Cardoso nas últimas eleições e tendo ainda confiança no sucesso de seu plano econômico, registro meu desapontamento com afirmações como a publicada na Folha de 3/9. Não podemos fingir que a estabilização não exige sacrifício de todos e afirmar que `dá vontade de rir' ao ouvir falar em recessão. O presidente se mostra insensível às dificuldades pelas quais os cidadãos estão passando. Frases como essa só têm um efeito: diminuem a credibilidade do presidente e de seu governo."
Luciano Francisco Pacheco do Amaral Neto (São Paulo, SP)

Sem-terra
``Destaco a importância da questão levantada pelo jornalista Janio de Freitas em 1/10. Quantos realmente foram os assentamentos realizados na gestão do sr. Brazílio de Araújo Neto: 4, 15 ou 22 mil famílias? É uma questão que este jornal e o brilhante jornalista não podem deixar sem resposta."
Pedro de Camargo Neto (São Paulo, SP)

``A imagem bucólica da vida no campo, da casinha de sapé, da pureza da alma e do corpo parece ser a base do artigo de 24/9 do sr. Josias de Souza. O senhor feudal, dono de escravos, barão rural, onipotente e onipresente, também faz parte da imaginação do sr. Josias. Assim como crédito rural barato e fortunas na agropecuária. A realidade do endividamento rural, da quebradeira nas fronteiras agropecuárias, do descalabro do custo do Finame, do empobrecimento do setor rural foi `esquecida'. Infelizmente, pior do que escrever mal é desconhecer o assunto em pauta. A agricultura faliu (manchete da Folha do dia 3/9), o movimento dos sem-terra tem influência de grupos guerrilheiros internacionais, essa é a realidade atual. O quadro atual é péssimo e, se persistir, no próximo ano a campanha contra a fome terá o maior agravante: escassez de alimentos, que, aliada à falta de dinheiro, resultará no caos social."
Fernando Martins Serrano (Maringá, PR)

Resposta do jornalista Josias de Souza - Agricultores inadimplentes e trabalhadores invasores estão, ambos, à margem da lei. Mas o Estado só incomoda os sem-terra, eis o que desejei ressaltar em meu artigo. De resto, a maioria dos agricultores brasileiros paga suas dívidas em dia, prova de que a crise não é desculpa para o calote.

Álcool
``Sentimo-nos na obrigação de prestar alguns esclarecimentos no que tange à anunciada compra antecipada de álcool, pois o que se pretende fazer é um arremedo ao não cumprimento pelo governo de uma obrigação legal. Até 1988, conforme legislação específica, o governo federal mantinha estoques de segurança de álcool equivalentes a dois meses de consumo. Esses estoques tinham como objetivo preservar a segurança do abastecimento, na hipótese de uma quebra de safra. A partir de 1986, com a queda brutal do preço real pago aos produtores de cana-de-açúcar e de álcool, a produção de cana-de-açúcar estabilizou e, em consequência, a de álcool. De outro lado, a demanda continuava a crescer. Em 1988, os estoques de segurança foram absorvidos para o consumo e, desde então, nunca mais foram recompostos. Em 1991, a responsabilidade do governo federal em manter estoques de segurança foi reforçada pela lei 8.176. Apesar disso, nada foi feito. O fato de o governo não adquirir dois meses de consumo para recompor estoques de segurança implica num custo mensal de R$ 35 milhões, considerando que esses estoques valem R$ 500 milhões e a sua manutenção custa ao setor privado 7% ao mês, em média. O custo anual arcado pelo setor privado pelo não cumprimento de uma obrigação que é do governo é, portanto, de R$ 420 milhões. A operação de compra antecipada de álcool é um arremedo que se fará sobre uma questão que é de vital importância para o setor. Não se deve confundir compra antecipada com recomposição de estoque de segurança; muito menos, quando o custo dessa compra antecipada será, também, integralmente pago pelos próprios produtores. Os recursos necessários à compra antecipada estão sendo captados pelo Banco do Brasil a um custo de 11% ao ano e repassados à Petrobrás, que, por sua vez, cobrará 21% ao ano (!) dos produtores que aderirem à proposta de compra antecipada. Vê-se, portanto, que não há `esmola' na medida."
Germano Sordi, presidente da Sopral -Sociedade de Produtores de Açúcar e de Álcool (São Paulo, SP)

CUT
``A reportagem sobre o ABC mostra o reflexo do sindicalismo selvagem da CUT em seu último reduto, além do funcionalismo público e das estatais. A CUT, que levantou o trabalhador brasileiro, ao se transformar em correia de transmissão do PT está levando os trabalhadores a perdas incalculáveis."
Luiz Roberto Bar Mendes (Contagem, MG)

Cigarro
``É impressão minha ou a Folha está contra a campanha antitabagismo da prefeitura? Como ex-fumante, fico indignado com a propaganda gratuita a favor dos restaurantes que têm liminar contra a proibição (Cotidiano, 2/10). Quando fumante, sempre fiz questão de não fumar em restaurantes para não prejudicar os não-fumantes. Peço a adesão dos não-fumantes para nunca mais frequentar os restaurantes que têm a liminar."
Antonio Carlos Castilho de Freitas (São Paulo, SP)

Elizabeth Bishop
``Li com muito interesse o caderno Mais! da Folha (24/9) relativo a Elizabeth Bishop e Lota de Macedo Soares, minha grande e saudosa amiga. Permito-me fazer algumas observações. 1) A respeito da declaração de Marieta, irmã de Lota: `Ela (Lota) se dava muito com uma americana safada, a Mary Morse. Mary Morse, de tradicional família de Boston, reputada pela sua bondade e firmeza de caráter, pessoa idônea e responsável, criou quatro meninas, órfãs, deu-lhes um lar, educou-as e encaminhou-as até a idade adulta. Marieta teve um procedimento indigno em relação a Lota e a Mary, difamando o nome de sua irmã. Difamou-a de forma mesquinha ao contestar seu testamento, provocando repulsa geral. 2) `Segundo Stella Pereira, Lota, que se achava feia, encontrou em Bishop a encarnação do belo.' Elizabeth Bishop tinha grande talento e cultura, mas não era bela. 3) `Lota achava que aqui não havia gente do nível cultural de Elizabeth.' O fator língua impediu que Elizabeth Bishop participasse de um meio de seu nível, isso é o que Lota dizia. 4) `Tanto Mary quanto Carlos Lacerda tinham casas no mesmo terreno, que foi loteado e vendido por Lota a amigos. Petrópolis era o ponto de reunião do grupo, que, segundo se comenta até hoje na cidade, mantinha encontros íntimos com pessoas do mesmo sexo.' Trata-se de pura maledicência e inverdade. Lota era pessoa de grande reserva. Vivia em Samambaia, não em Petrópolis, possuía inúmeros amigos e jamais se envolveu em grupos como o mencionado."
Stella Pereira (Rio de Janeiro, RJ)

Mulheres
``A matéria publicada domingo (1/10) sob o título `Mulheres vivem de mesada sem remorso' é uma vergonha. A conquista de espaço social pelas mulheres, seu acesso ao mercado de trabalho, sua profissionalização, sua independência econômica e a divisão das obrigações familiares são garantias de desenvolvimento cultural de toda a sociedade. É repugnante como essas senhoras ignoram o mundo em que vivem, como são atrasadas e dependentes, confessando-se incapazes não só de ganhar seu próprio dinheiro, mas também de administrar o do marido."
Marta Toledo (São Paulo, SP)

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