São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
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Preso suspeito de atentado no Itamaraty

DA FOLHA SUDESTE; DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-servidor público Jorge Mirândola foi preso sem reagir em Poços de Caldas (MG) e nega ter enviado explosivo
O ex-oficial de chancelaria Jorge Alfredo Lomba Mirândola foi preso ontem às 15h15 no centro de Poços de Caldas (MG) sob suspeita de ter enviado um livro-bomba que explodiu anteontem à tarde no Itamaraty, em Brasília. O atentado feriu gravemente a diplomata Andréia David.
Segundo o diretor da PF (Polícia Federal) em exercício, Moacir Favetti, Mirândola foi transferido para Belo Horizonte com prisão preventiva decretada. Depois, será levado para Brasília onde responderá a processo por crime de tentativa de homicídio.
O ex-servidor público foi preso quando andava com seu carro, uma Brasília amarela, pela rua São Paulo, centro de Poços de Caldas. Ele tinha uma reserva para se hospedar no hotel Primus, mas não chegou a se instalar.
Segundo o delegado Carlos Camargo, da 25ª Delegacia Regional de Polícia Civil de Poços de Caldas, a PF do Rio havia informado que Mirândola, procurado desde o atentado, estaria indo de carro de Divinolândia (SP) para Resende (RJ) e passaria por Poços.

Prisão sem reação
``Tínhamos o nome dele, sua descrição física e os dados de seu carro, uma Brasília amarela com placas de Palmelo (GO). Dois PMs viram o carro, abordaram o acusado e o prenderam", disse.
Segundo o delegado, Mirândola não reagiu. ``Ele veio sem problemas. Disse que não queria advogado porque tudo era um engano, negou qualquer ligação com o atentado e afirmou que apenas enviava cartas ao governo eventualmente", afirmou Camargo.
Com o acusado, a polícia encontrou uma fita cassete (que seria ouvida apenas hoje pela manhã), uma porção de terra em um saco plástico, uma caixa do antidistônico Lorax (remédio vendido apenas sob prescrição médica) e um canivete com a bandeira dos EUA.
Além disso, havia uma agenda e recortes de jornais de variados temas. Um deles mostrava a prisão de mafiosos em São Paulo, outro falava de alarmes para carros. Também foi achado um bilhete com os dizeres: ``Doido para te ter de novo, doido por me sentir triste assim".

Aviso à PF
Mirândola havia deixado o hotel Lunayma, em Divinolândia, anteontem, dia da explosão, às 12h. Ele estava hospedado no local desde 15 de setembro.
As notícias do atentado e das cartas enviadas pelo acusado chamaram a atenção do dono do hotel, Naif Haddad Neto, que entrou em contato com a Polícia Federal.
Em entrevista no Itamaraty, o diretor em exercício da PF, Moacir Favetti, explicou que a mãe do suspeito, observada logo após a explosão do livro-bomba, facilitou sua localização por ter enviado dinheiro por via bancária para seu filho. O rastreamento destes depósitos facilitou a localização de Mirandôla (leia texto ao lado).
Favetti disse que o rastreamento fazia parte do inquérito aberto pela Polícia Federal há três meses, desde que o ex-servidor começou a enviar cartas ameaçadoras.
A PF investiga a possibilidade de Mirândola ter alguma mágoa da diplomata para justificar o fato de tê-la escolhido para ser vítima do atentado.

Segurança
O ministro da Justiça, Nelson Jobim, afirmou ontem que está recomendando a todos os ministérios mais rigor na seleção da correspondência, antes de abrir os envelopes, como medida de precaução para evitar atentados como o que ocorreu no Itamaraty.
Apesar da recomendação, Jobim disse acreditar que a explosão de um livro-bomba no Ministério das Relações Exteriores foi uma "ação isolada e que não há riscos de ocorrer outros atentados desse tipo em outro órgão do governo.
Ao depor na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado sobre o Sipam (Sistema de Proteção à Amazônia) e o Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), o ministro da Justiça foi evasivo ao comentar com a imprensa o atentado ocorrido no dia anterior.
Jobim negou-se a dar qualquer informação sobre as investigações realizadas pela Polícia Federal, órgão subordinado a seu ministério, para não atrapalhar o trabalho policial.

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