São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
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Anos 90 aprendem a conviver com cultura gay

ZECA CAMARGO
EDITOR DA ILUSTRADA

``The Gay 90's", proclama a revista ``Entertainment Weekly" em seu número de 8 de setembro último, celebrando um momento aparentemente especial pelo qual passa a cultura pop nos anos 90.
Parece que acabaram os preconceitos e as restrições ao universo das referências culturais gays -de onde, aliás, o gosto heterossexual sempre foi buscar inspiração.
Finalmente então, os homossexuais já estão sendo encarados como ``virtualmente normais", para pegar emprestado o termo do intrigante livro de Andrew Sullivan -a sair no Brasil pela Companhia das Letras-, editor da publicação americana ``The New Republic".
Um movimento mundial? Quase -só que com óbvias diferenças de intensidade e sensibilidade.
Para cada olhar de estranheza que a mídia coloca sobre um evento como o Mix Brasil, há sempre a tentativa da cultura ``mainstream" (ou ``corrente", numa tradução apressada) de integrar personagens homossexuais na esfera do normal -citando Sullivan mais uma vez.
Claro que a programação do Mix Brasil colabora para reforçar o exotismo desse olhar -e pelo breve histórico da mostra, esse deve ser mesmo o objetivo dela.
Mas faltam ainda manifestações que tratem o homossexualismo com menos seriedade e mais displicência -a fórmula esperta que a militância dos anos 90 encontrou, como foi bem ilustrado pela ``Entertainment Weekly".
Viva ``Angels in America", mas que tal uma peça como ``Amor! Valor! Compaixão" ou um filme como ``Jeffrey"?
David Geffen assume que é gay e continua a ser a pessoa mais importante da indústria do entretenimento americano. E Michael Stipe não prejudica as vendas do R.E.M. ao falar de sua sexualidade.
Claro que um Sandrinho namorando com um Jefferson na novela já facilita muita coisa. Mas para chegar mesmo a normalidade, ainda há muito para conversar.

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