São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
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Lisboa é a mais bonita luz de toda Europa

DO "LE MONDE"

O Bairro Alto, o mais boêmio da cidade, concentra em seus cafés, restaurantes e galerias, a nata cinematográfica
Não é de uma só vez que se tem a visão total de Lisboa, como a de Paris num olhar de relance do alto de Sacre-Coeur.
A capital portuguesa é muito íngreme, tortuosa, o mar não fica longe, apenas o Tejo que se alarga, expande-se, toma seu rumo assim que atravessa a cidade, depois do mosteiro dos Jerônimos onde se ergue a torre de Belém com seus velhos canhões e suas torrezinhas brancas, que indica o ponto simbólico e preciso da divisão das águas onde acaba o Tejo e começa o oceano.
No entanto, há um lugar de onde se tem uma vista interessante, o belvedere São Pedro de Alcântara, uma praça triangular suspensa na colina, sombreada e fresca.
Em um canto, rapazes jogam futebol e vagabundos dormem nos bancos. No meio de um canteiro, ergue-se o busto de Thomás Quintino Antunes (1820-1898), fundador do Diário de Notícias, benfeitor da imprensa popular.
Ao subir uma das ruas estreitas da velha cidade chega-se ao Bairro Alto, de casas cobertas de azulejos azuis ou pintadas de branco, às vezes, de farra, com uma inscrição vigorosa do tipo: ``Se a merda fosse de ouro, os pobres nasceriam sem cu!", seguida de um A num círculo, símbolo anarquista.
O bairro, de difícil acesso, com calçadas minúsculas, ruas de calcário branco e escorregadio, antigamente deve ter sido muito pobre. A parte baixa da cidade é mais espaçosa, mais mutante, mais acolhedora às fortunas burguesas que não têm necessidade de fortalezas.
Atualmente, o Bairro Alto, que se pronuncia bem depressa com a língua enrolada ``Barroualto", começa a se tornar o bairro da moda de Lisboa. É ali, na Loja de Atalia, que acaba de ser aberta uma grande galeria, onde o cantor-compositor dos Talking Heads, David Byrne, expõe suas fotos sob o título ``Sacred Objects, Sleepness Nights".
O escritor americano Paul Auster, e um mundo de pessoa bonitas, ricas e chiques, compareceram à vernissage. Do outro lado da rua, o Café Frágil festejava seu aniversário com orquestra, guirlandas de lanternas venezianas e batalhões de efebos em trajes preto e prateado e grandes espadas de plástico.
Ao lado da galeria, um excelente restaurante, o mais chique de Lisboa, visitado por Catherine Deneuve. O Pap'açorda oferece uma cozinha nacional, temperada e leve e, à noite, é o ponto de encontro de toda a nata cinematográfica.

LEIA MAIS
Sobre Lisboa e o cinema nas páginas 6-26 e 6-28

Tradução de BERTHA GUROVITZ

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