São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
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Produção de filmes ainda é pequena

DO ``LE MONDE"

Numa casa de decoração árabe, construída no início do século na cidade Baixa, João Benard da Costa dirige a Cinemateca Portuguesa.
Segundo ele, a história moderna do cinema remonta aos anos 60. Nos anos 50, o cinema decaiu a um nível muito baixo e os diretores se interessavam cada vez mais pelo que se passava na Europa, principalmente pela "nouvelle vague", por todo esse movimento por meio do qual os autores se exprimiam.
Por falta de recursos, eles se voltaram para o grande mecenas em Portugal, a Fundação Gulbekian, que muito os ajudou. Foi o que fez com que o Estado se decidisse a reconhecer a importância do cinema como instrumento de cultura e a fazer votar, em 1971, uma lei criando um Instituto Português do Cinema, transformado em seguida no Ipaca (Instituto Português de Artes Cinematográficas e de Audiovisual).
A partir dessa data, o cinema foi totalmente subvencionado pelo Estado. Durante muito tempo, o Instituto protegeu principalmente um cinema de autor e falou-se do cinema novo português, com pessoas como Paulo Rocha (``Anos Verdes", 1963,`` Mudar de Vida", 1966), Fernando Lopes (``Belarmino", 1964), Antonio de Macedo (``Domingo à tarde", 1965), e com o retorno à democracia, de um lado, tinha-se um cinema de autor muito enfadonho, e do outro, um cinema ultra-politizado.
Desencadeou-se uma grande polêmica que ainda perdura: deve-se continuar a ajudar um cinema bem elitista que só se vê nos festivais estrangeiros e que não agrada aos portugueses ou, ao contrário, apoiar um cinema comercial popular, suscetível às multidões?
Aparentemente é essa tendência que agrada a presidente do Ipaca, Zita Seabra, uma comunista a quem os produtores censuram pelo fato de querer fazer um cinema para um certo público, depois de querer fazer um para o povo.
Sem entrar no mérito do debate, João Benard da Costa constata: "De qualquer modo, o mercado português é muito pobre, há trezentas salas no país e cada português a frequenta menos de uma vez por ano".
Quando um filme faz um sucesso enorme, calcula-se 400 mil entradas vendidas, o que cobre apenas um quarto de seu custo. Mesmo um campeão de bilheteria será deficitário. Então, pode-se dizer: ``tudo bem, mas ele pode agradar fora de Portugal etc".
Mas, isso nunca aconteceu. O gênero de filmes concebidos para uma audiência internacional não tem necessidade de ser português. Ele já é mais bem feito pelos americanos e europeus. Mesmo de boa qualidade, um filme português passará despercebido.
Querer fazer a todo custo cinema ``europeu" é expor-se a usar sempre os mesmos atores para os mesmos assuntos e a perder seu caráter e sua alma. Em compensação, o cinema de autor, sem ter muitas entradas, é mais notado, melhor acolhido pela crítica e consegue ser vendido para a televisão, e os canais culturais.

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