São Paulo, quinta-feira, 5 de outubro de 1995
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País se defronta com a modernidade

JOSÉ GERALDO COUTO
DO ENVIADO ESPECIAL A PORTUGAL

Há quem lamente a integração de Portugal na União Européia (efetivada em 86) como o início da perda de identidade do país.
O escritor português Miguel Esteves Cardoso, autor do romance "O Amor É Fodido, chega a falar em "desintegração de Portugal na Europa, e o poeta brasileiro José Paulo Paes diz que cada vez gosta menos de Portugal porque não gosta de novo-rico.
O fato é que em Portugal, hoje, há um equilíbrio muito interessante, ao menos para o estrangeiro, entre tradição e modernidade.
Sinais da modernidade são o relaxamento dos até há pouco tempo rígidos padrões morais, a crescente sintonia dos jovens com a moda e a cultura pop internacionais etc.
No comércio e nos serviços de Lisboa, quase em toda parte se aceitam cartões de crédito internacionais, os atendentes falam inglês e francês e em muitos lugares tudo está informatizado.
Mas, assim como os velhos bondes convivem com os carros importados, sobrevivem marcas da estrutura paroquial e patriarcal do passado: as lojas, por exemplo, são em geral tocadas por pais e filhos ou por marido e mulher.
A imprensa, o cinema e a TV exibem de tudo, coisa que não acontecia há dez anos, mas, no balcão do bar, o freguês leva horas para ser atendido. Dizem que o desemprego em Portugal é um dos menores da Europa, mas podia ser menor ainda se houvesse mais balconistas e garçons.
Há, nessa sobrevivência de um certo provincianismo, uma graça e um encanto que não se encontram mais em outras partes do mundo.
Talvez seja esse encanto que explique o fato de um grupo musical como o Madredeus fazer sucesso no resto da Europa (e no Brasil), e de cineastas como o alemão Wim Wenders e o brasileiro Walter Salles buscarem Portugal como cenário de seus novos filmes.
Portugal será o melhor lugar do mundo se conciliar futuro e passado, alcançar as conquistas da modernidade mantendo suas reservas de afetividade e espontaneidade.

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